quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lixo: um problema crescente

Na mesma época em que a Reuters e a Times Britânica noticiavam que o Brasil e Gana estavam sendo tratados como lixeira pela Inglaterra (julho-agosto/2009) a CBS denunciava no programa 60 MINUTES (agosto/2009) que a China é o alvo para o despacho de lixo eletrônico proveniente dos EUA.

Países subdesevolvidos e em desenvolvimento são o alvo de nações mais desenvolvidas e o que parece é que as autoridades fecham os olhos para este problema, principalmente com o avanço tecnológico e o crescimento do lixo eletrônico.

O mais interessante foi os nossos meios de comunicação não terem dado a atenção necessária ao ocorrido. Não é só uma questão de bom senso. A ONU tenta proteger este tipo de prática com a criação de acordos internacionais, como a Convenção de Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito (
The Basel Convention on the Control of Transboundary Movements of Hazardous Wastes) visando justiça ambiental.

Está faltando fiscalização e punição para os que traficam lixo no mundo...

Assista aqui "The Wasteland" (somente em inglês):

Watch CBS News Videos Online

O IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor explica como descartar lixo eletrônico: Tecnologia que vira lixo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Interdisciplinaridade: Educação para a Sustentabilidade

Complementando o último post, sobre o filme 2MM (2 milhões de minutos), vou escrever um pouco sobre o erro em tratar a Educação apenas como meio para produzir consumidores e trabalhadores. Focando apenas na busca de sucesso econômico pelos países, estamos educando as crianças sem a oportunidade de elas desenvolverem seus talentos individuais. Isso foi assunto no post de novembro de 2009 “Nosso sistema educacional funciona?” e também no de julho de 2009 “Educação, criatividade e atividade física”.


Um artigo inquietante intitulado “US students rank 11th in Science, 9th in Math: should we go back to basics?” (Alunos americanos estão em 11o e 9o lugares em Ciências e Matemáticas, respectivamente, no ranking mundial: sinal de que deveríamos enfatizar o ensino tradicional?*) foi analisado em sala na semana passada e mostrou o quanto ainda pouco se debate sobre interdisciplinaridade. E daí para a aplicação então, nem se fala.


A autora da matéria, Donna Gundle-Krieg, cita outro artigo “Schools Should Stick to Basics and Resist Green Fad” (Escolas deveriam se concentrar no ensino tradicional e resistir à onda verde*), de Russ Harding, que defende o foco no ensino das Ciências e das Matemáticas. Apenas.


O problema do artigo de Donna, considerada jornalista especializada em Educação, foi ter reproduzido o artigo de Harding, um burocrata conservador e de índole duvidosa – foi condenado por desfalque na prefeitura de Nova Iorque na administração de Giuliani e também por posse de pornografia infantil – sem criticar a falta de contexto do mesmo.


Harding apresenta informações de um relatório que leva o leitor a acreditar que os empregos que estão surgindo juntamente com a consciência verde (e.g. energia eólica e solar) não vão crescer. O que crescerá será o campo de energias alternativas tradicionais, como o carvão, o gás natural e a energia nuclear. Harding acrescenta que os alunos que ganharão o mundo serão aqueles que dominarem as Matemáticas, a Engenharia e as Ciências. E emenda que as aulas ligadas à educação ambiental deveriam ser totalmente abolidas.


Que fortalecer o ensino das Ciências e das Matemáticas é importante, os educadores já sabem, mas Harding esquece que existe interdisciplinaridade na Educação. Qualquer matéria ligada ao meio-ambiente pode ser incorporada tanto no estudo de matérias da área das Ciências Humanas quanto no de “Ciências pesadas”, como ele chama o que engloba também a Biologia e Geologia.


Outro erro feito pelo burocrata foi enfatizar a 'corporativização' da escola. Assunto ainda não muito debatido e que precisa de mais atenção na área educacional. As forças de mercado não podem continuar ditando as regras, assim como não queremos continuar produzindo gerações de consumidores e trabalhadores. Queremos uma geração de cidadãos talentosos e criativos, com a consciência de que o mundo pode ser um lugar melhor para se viver e sem que o dinheiro e o poder dominem as relações humanas.


* Tradução livre

domingo, 17 de janeiro de 2010

O que você quer ser quando crescer?


O documentário 2MM (infelizmente somente em inglês) prova mais uma vez de que o sitema educacional é o reflexo da sociedade. A escola já cumpriu diversos papéis, como preparar países para a Revolução Industrial e para a Guerra. O filme em questão compara e contrasta o sistema educacional no ensino médio (high school) da Índia, China e Estados Unidos.
O produtor Bob Compton explica que o nome 2MM (2 million minutes, ou 2 milhões de minutos em Português) vem do fato de que no período de 4 anos uma pessoa vive aproximadamente 2 milhões de minutos, ou seja, o tempo de duração do ensino médio. O documentário mergulha nos hábitos das famílias nos 3 países, analisando de perto os relacionamentos entre pais e filhos, além do próprio sistema de educação.
O ensino médio é considerado crucial na preparação do cidadão para a vida social e para o mercado de trabalho. O modo como a sociedade se desenvolve nesses 2 milhões de minutos dita o futuro econômico do país. Ele destaca o papel da família e também a valorização do que é ensinado.
Penso que é necessário investir no desenvolvimento de talentos nos campos das ciências e das matemáticas, além de reformar o sistema educacional para estimular a criatividade dos alunos. Com a globalização, o mundo está encolhendo e, em breve, não será mais necessário passaporte para ser empregado. Aqueles com as melhores habilidades ganharão o mundo.

O documentário está dividido em partes no Youtube.

Pegada Ecológica

O quanto seu estilo de vida demanda da Natureza?

A "Pegada Ecológica" ou Ecological Footprint em inglês, é um indicador de sustentabilidade ambiental. O índice examina a dimensão dos impactos negativos que as atividades exercidas por nós causam junto às fontes naturais. Cada estilo de vida demanda uma certa quantidade de matéria e energia da Natureza, produz resíduos e provoca emissões de gases que desestabilizam o meio ambiente.

A organização sem fins lucrativos Center for Sustainable Economy disponibiliza no site http://www.myfootprint.org um teste para medirmos o impacto que causamos no meio natural. Além de mudarmos pequenos hábitos - o que já ajuda bastante - também podemos neutralizar nosso impacto investindo em projetos ambientais. Os projetos são diversos: recuperação florestal, projetos de geração de energia limpa (eólica, fotovoltaica, biomassa, solar e outras formas), aterros sanitários, entre outros. No Brazil o Programa Carbono Neutro também disponibiliza o teste: http://www.carbononeutro.com.br/.

Fiz o teste e descobri que se todos tivessem meu estilo de vida precisaríamos de mais 30% da Terra, (Ecological Footprint = 1.30) porque uma só não segura! Para começar a contribuir e diminuir o peso na consciência doei US$ 10 e tirei da tomada todos os aparelhos fora de uso.

Quiz results: Ecological Footprint Quiz by Redefining Progress

Excelente reflexão


O quanto de Boris existe em você?

William Douglas é juiz federal e professor.

Após ouvir lixeiros desejarem "feliz 2010", Boris Casoy disse "... que m----, dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras... (risos) ... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho." O episódio chocou. As reações que está sofrendo são exageradas? Ou ele as merece? Os lixeiros desejaram a todos (inclusive a ele, portanto) "paz, saúde, dinheiro, trabalho" e o que se seguiu foi, usando sua terminologia, "uma vergonha".

O pedido de desculpas, protocolar, não teve eficácia, talvez até o contrário. A oposição entre a imagem do apresentador e o comentário em off, revelador de uma visão elitista e preconceituosa, frustrou a ideia de respeito a todos e ao telespectador (imaginem o filho de um gari ouvindo isso). A rudeza dos comentários não se resolve por ter sido um acidente e não é fácil pedir desculpas pelo que se é ou pensa. Contudo, até que ponto a diferença entre nós e o Boris reside apenas no azar que ele deu pelo vazamento? O quanto de Boris existe em cada brasileiro?

Quando alguém se refere ao ponto "mais baixo na escala do trabalho" pode estar se referindo ao conteúdo moral ou social da atividade (como, por exemplo, criticar o tráfico ou a agiotagem), pelos riscos ou pela remuneração reduzida. A atividade de lixeiro não é nociva à sociedade. Nocivo seria, para a saúde e meio ambiente, que eles não atuassem. Como o risco não é tão grande, por eliminação, resta a remuneração. E aí reside um preconceito que resiste: julgar a dignidade das pessoas, ou das profissões, de acordo com sua remuneração. Há que se reconhecer que nem sempre existe equilíbrio entre a importância social de uma função e os ganhos que esta proporciona. E não se pode confundir o desejo de melhorar de vida ou ganhar mais, e a admiração por quem logra isto, com uma postura de menoscabo com as funções menos rentáveis.

Todo trabalho é digno. O que existe, em cada ofício, são pessoas que agem bem e outras não. Existem servidores públicos, CEO"s, lixeiros, jornalistas e juízes dignos e indignos, o que se define pela forma como exercem sua atividade. Mais que isso, Jesus dizia que "a vida do homem não consiste na abundancia dos bens que possui".

Se você, leitor, julga alguém melhor ou pior levando em consideração o quanto a pessoa ganha, ou como se veste, ou onde mora, é preciso reconhecer que em você há, escondido, um pouco desse lado sombrio que o Boris revelou ter. Talvez o lado positivo desse episódio seja a reflexão sobre até que ponto ele não revela nossos preconceitos em off.

Camila Pitanga, que faz o papel de uma faxineira na novela global, afirmou que anda pelo estúdio sem ser cumprimentada quando está com os trajes da personagem. Feliz pelo papel ser convincente, não deixou de anotar como é estranho ficar "invisível", Esse fenômeno já foi objeto de estudo por um professor da USP que, vestido de faxineiro, ficou "invisível" na universidade, por anos. Em suma, quem deixa de ver o faxineiro, não deixa de ter seu lado Boris. Não que o Boris seja de todo mal, ele não é. Ninguém é. Somos todos humanos, com nossos lados luminosos e sombrios.

Boris também errou ao analisar a função de lixeiro. Os "'garis" são figuras simpáticas à população, vivem de bom humor e, ao lado dos carteiros, têm índices de aprovação e confiança que fazem corar os Poderes, a igreja e a imprensa. Infelizmente, estas instituições não são eficientes para limpar seus respectivos "lixos" como os garis o são com o lixo que lhes cabe. Por fim, não esquecer que - com seu jeito e ginga - um gari ilustra o vídeo institucional da bem sucedida campanha "Rio 2016". No Rio, os concursos para gari são concorridíssimos.

(...)

E você, leitor? Cumprimenta seu lixeiro? O garçom? A babá da vizinha? O porteiro? Você os vê? Aquele áudio procura você. Se você se julga, ou julga os outros, por quanto ganha, por qual carro tem, ou se não tem um, então o episódio pode revelar esse lado do Boris em seu cotidiano. Melhor que apenas discutir o que fez o Casoy é também questionarmos até que ponto reconhecemos o valor de todo e qualquer trabalho honesto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Educação para a Sustentabilidade

"A change of consciousness, which is vital to change behavior, is most difficult, and often requires the very challenging and slow process of unlearning and reeducating."
Professor Robert Farrell
Florida International University

"Uma mudança de consciência, que é vital para a mudança de comportamento, é muito difícil de alcançar e exige o processo desafiador e lento de desaprender e reaprender." *
Professor Robert Farrell
Florida International University

*Tradução livre.

Quando a falta de bom senso grita

Um garfo, uma colher ou uma.... arma?!

Matéria do NYT discorre sobre a falta de bom senso das escolas americanas ao julgar casos de tolerância zero.

O aluno Zachary Christie, 6 anos, foi suspenso por 45 dias por levar para a escola um "instrumento" que ganhou ao ingressar no grupo de Escoteiros. O tal aparato é um misto de garfo, colher e faca. Devido aos acontecimentos ocorridos em Columbine e Virginia Tech, muitas escolas americanas adotaram tolerância zero para com "armas". O problema é que cada caso deve ser analisado separadamente.

A mãe de Zachary ensina o garoto em casa enquanto aguarda a decisão das autoridades. Para isso conta com o apoio da opinião pública no site helpzachary.com. Esta não é a primeira vez que a tolerânci zero vai longe demais nos EUA. Outra aluna foi expulsa por 1 ano (!!) no dia de seu aniversário após levar para a escola um bolo de chocolate acompanhado de uma faca para cortá-lo ... A professora reportou o caso ao Diretor, mas não sem antes usar a faca para cortar o bolo...

Além da falta de bom senso absurda, estudos mostram que alunos Afro-Americanos são mais sujeitos à suspensão do que outros alunos em casos idênticos.

Mais uma prova de que o sistema educacional precisa de revisão.

Fonte: NYT

Deu no Ex-Blog

CINQUENTA ANOS DA MORTE DO ESCRITOR ALBERT CAMUS!

Abertura do artigo de Jean Daniel (editorialista do Le Nouvel Observateur), El País (11): Será 2010 o ano de Camus?

1. Este ano novo será camusiano? Faço essa pergunta porque escrevo no dia do quinquagésimo aniversario da morte do autor de "O primeiro homem". A resposta é "sim". E não pelas prodigiosas homenagens que lhe dedicam. Estas deixam atônitos aos que sabem do purgatório, e inclusive do inferno a que lhe relegaram durante tanto tempo a maioria dos intelectuais franceses.

2. Mas pelo homem que pensou e refletiu sobre o suicídio, o assassinato, a revolução e a rebelião, impondo-se, como disciplina, uma lucidez extrema. É o pensador que abominou o absoluto, cultivou a dúvida, introduziu o heroísmo no comedimento e antecipou que em seguida, teríamos que tentar conservar o mundo em vez de tentar mudá-lo. Esse homem definiu um comportamento e uma atitude, em vez de um credo. E é isso exatamente o que necessita nossa época.

Fonte: Cesar Maia