sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Desempenho escolar

Muitos estudos são feitos para descobrir o que pode influenciar o desempenho escolar. Reproduzo abaixo[1] parte da reportagem especial sobre o programa "No Children Left Behind" indicada pelo educador Claudio Mendonça (http://www.claudiomendonca.com.br/), que foi publicada na revista The New York Times Magazine, em 26 de novembro de 2006, e está disponível no site http://www.wehaitians.com/still%20left%20behind.html.

O texto fala sobre a diferença entre brancos e afro-descendentes no desempenho escolar.

“(...) A situação foi complicada pelo fato de que realmente existem dois abismos entre as avaliações: aquele entre as crianças brancas e negras e outro entre as pobres e as que estão acima da linha da pobreza. A partir daí essas categorias tendem a se sobrepor – as crianças negras têm três vezes mais chances de crescer na pobreza do que as brancas – e muitos pensam se focar na raça é realmente uma abordagem útil. Por que não concentrar em corrigir as desvantagens acadêmicas para as crianças pobres? Solucione este ponto e o abismo entre negros e brancos se resolverá por si só.

Durante muito tempo houve evidências de que as crianças pobres ficavam para trás desde cedo em relação às ricas e de classe média, e assim se mantinham. No entanto, pesquisadores não conseguiram isolar as razões. Pais ricos têm os genes melhores? Eles valorizam mais a educação? Será que é porque eles compram mais livros e brinquedos educacionais para seus filhos ou porque se divorciam menos do que pais pobres? Crianças ricas comem comida mais nutritiva, se mudam menos de residência, dormem mais ou assistem menos TV? Incapazes de identificar os fatores importantes e eliminar os irrelevantes, não foi possível nem começar a traçar uma estratégia para reduzir o abismo.

Foi aí que pesquisadores começaram a mergulhar profundamente nos hábitos das famílias americanas, estudando de perto os relacionamentos entre pais e filhos. Os primeiros estudiosos que mostraram resultados específicos foram Betty Hart e Todd R. Risley, psicólogos infantis na Universidade de Kansas, que em 1995 publicaram os resultados da pesquisa minuciosa em aprendizagem da língua. Dez anos antes eles recrutaram 42 famílias com crianças recém nascidas em Kansas City e durante 3 anos consecutivos visitaram cada uma, durante um dia no mês, gravando praticamente tudo o que acontecia entre a criança e os pais ou responsável (s).

Os pesquisadores então transcreveram todas as gravações, cruzaram e analisaram os dados de aprendizagem de linguagem de cada criança e o estilo de comunicação de cada pai, mãe ou responsável. O primeiro resultado é que o crescimento do vocabulário difere enormemente de uma classe para outra e que a diferença entre as classes se abre rapidamente. A partir dos 3 anos, crianças cujos pais ou responsáveis tinham uma profissão, adquiriam um vocabulário de cerca de 1.100 palavras, enquanto que aquelas cujos pais estavam desempregados tinham um vocabulário de cerca de 525 palavras. Os Q.Is. das crianças se relacionavam próximos aos vocabulários. A média do Q.I. entre as crianças com pais “profissionais” era de 117, e das crianças com pais desempregados de 79.

Quando Hart e Risley levantaram a questão sobre o que causava as variações, a resposta foi surpreendente. Comparando os testes de vocabulário com as observações sobre cada vida familiar, eles puderam concluir que o tamanho de cada vocabulário se relacionava de perto com um fator simples: o número de palavras que os pais falavam com as crianças. Isso variava muito de uma casa para outra e, também, de acordo com a classe social. Nas casas dos pais que exerciam atividade profissional, eles dirigiam às crianças cerca de 487 “expressões vocais” – variando de comandos curtos a “pensamentos altos” – por hora. Nas casas dos pais desempregados, a criança ouvia cerca de 178 expressões vocais por hora.

E tem mais, os tipos de palavras e frases que as crianças ouviam variavam de acordo com a classe social. A diferença básica estava no número de “desencorajamentos” que a criança ouvia – proibições e palavras de desaprovação – comparadas com o número de encorajamentos, ou palavras ou frases de aprovação. A partir dos 3 anos, a criança de pais empregados ouviam, em média, 500.000 encorajamentos e 80.000 desencorajamentos. Para as crianças com pais desempregados a situação se revertia: 75.000 encorajamentos e 200.000 desencorajamentos.

Hart e Risley descobriram que a complexidade da linguagem da criança melhorava ao passo que o número de palavras que ela ouvia aumentava. As conversas passavam de simples instruções a discussões sobre passado e presente, sentimentos, abstrações, situações de causa e efeito – e tudo isso estimula o desenvolvimento intelectual. Eles demonstraram que o Q.I. está diretamente ligado à linguagem à qual a criança é exposta durante a infância, assim como o sucesso acadêmico durante sua vida. Ouvir menos palavras e muitas proibições e desencorajamentos têm efeito negativo no Q.I.; ouvir muitas palavras, mais afirmações e frases complexas, têm efeito positivo no Q.I. Os pais com atividades profissionais estavam proporcionando às crianças vantagens a cada palavra falada, e esta vantagem só fez aumentar.

Desde que Hart e Risley publicaram seus achados, cientistas sociais têm examinado outros elementos da relação de pais e filhos, e, enquanto os métodos variaram, as conclusões sempre apontaram para grandes diferenças de classe social como principal fator no crescimento intelectual das crianças. Jeanne Broocks-Gunn, professor na Universidade do Professor (Teacher College), supervisionou centenas de entrevistas de pais e coletou milhares de horas de filmagem dos pais com os filhos, que a equipe pesquisadora escalonou. Conclusão: crianças com situação financeira satisfatória tendem a experimentar atitudes parentais mais sensíveis, encorajadoras, menos intrusivas e imparciais – tudo o que, segundo a descoberta, ajuda à aumentar o Q.I. e o desenvolvimento escolar.
Eles analisaram os dados para ver se existia alguma outra coisa acontecendo nos lares da classe média que poderia contar como vantagem, mas descobriram que, enquanto a situação financeira importa, a maneira de como a criança é tratada importa muito mais.Martha Farah, pesquisadora na Universidade da Pennsylvania, trabalhou no grupo do professor Brooks Gunn usando as ferramentas da neurociência para calcular exatamente que habilidades faltam às crianças pobres e que comportamentos parentais afetam o desenvolvimento de tais habilidades. Descobriu, por exemplo, que, geralmente, quando as crianças de classe média são alimentadas pelos pais, o lobo temporal medial do cérebro é mais estimulado, o que provoca o desenvolvimento da memória. (...)”

[1] Tradução livre.
Fevereiro / 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Mercado de Games na Economia da Criatividade

A potência econômica de uma nação está diretamente ligada à sua capacidade tecnológica e à multiplicação de indivíduos pensantes e criativos.

Um dos segmentos mais promissores das indústrias da criatividade é o de mercado de videogames (para PCs, internet e celulares), com perspectiva de crescimento de 50% nos próximos quatro anos. A estimativa foi feita durante a Games Convention, maior feira de jogos da Europa, que acontece anualmente no mês de agosto em Leipzig (na Alemanha), desde 2002.

Comprovando esta previsão, as vendas de videogames e hardwares nos Estados Unidos já haviam crescido 37% em julho de 2007, segundo a agência de notícias Reuters. As vendas totais somaram US$ 925,5 milhões no mês, frente a US$ 675,6 milhões um ano antes.

O Brasil parece acompanhar esta tendência sediando o primeiro encontro paulistano da International Game Developers Association (Associação Internacional dos Desenvolvedores Games), conhecida mundialmente como IGDA, em julho deste ano. A IGDA está espalhada pelo mundo através de “capítulos”, organizados em determinadas regiões onde há atividades na indústria de games, com o fim de fortalecer e promover o setor através de uma comunidade integrada. O evento contou com a participação de todos os desenvolvedores de games e profissionais da indústria local, para troca de informações sobre o mercado nacional.

A Eletronic Arts Brasil (EA), produtora e distribuidora de jogos de computador, e a maior editora independente do mundo de videogames, acredita que nos últimos três anos muita coisa aconteceu, dando uma visão otimista de futuro para o mercado nacional de games no país em geral. Para a EA os jogos online estão crescendo muito no mercado brasileiro, colocando o país num patamar similar ou superior ao de algumas nações desenvolvidas. O segmento de jogos para celular é outro exemplo de crescimento. Essas plataformas estão se tornando viáveis para o mundo dos jogos tornando-se uma grande oportunidade para o país.

O último levantamento feito pela ABRAGAMES (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos) informou que a maior atividade no mercado de games está na área de entretenimento (72%) enquanto que o restante (28%) está distribuído entre os setores de advergames (jogos on-line utilizados na divulgação de produtos) e de business games (games para treinamento de funcionários em processos seletivos). O Paraná é o principal no desenvolvimento de games, com 33% do mercado, seguido por São Paulo, com 30% e Rio de Janeiro, com 12%.

Em 1997 a linguagem Lua, desenvolvida em 1994 pelo Departamento de Informática da PUC-Rio, e distribuída gratuitamente pela internet, foi destaque ao ganhar o Prêmio Compaq de Estímulo à Pesquisa e Desenvolvimento em Informática. Apesar de ser amplamente conhecida e utilizada por programadores de todo o mundo, muito pouco se sabe sobre ela no Brasil. Ela foi criada com o intuito de facilitar a utilização de outras linguagens mais elaboradas, pois é um aplicativo com interface mais amigável.

Só para se ter uma idéia da importância dada à linguagem no exterior, nossa ferramenta brasileira foi utilizada pelos programadores da LucasArts Entertainment, empresa que lançou jogos das séries "Indiana Jones" e "Guerra nas estrelas", na confecção de dois de seus jogos mais famosos: Grim Fandango e Escape From Monkey Island. Os pesquisadores da PUC-Rio, autores de Lua, foram convidados, inclusive, a integrar o quadro funcional da Yindo, uma empresa emergente do Vale do Silício (Estados Unidos), na qualidade de consultores. Seus nomes no staff já possuem, naquele país, uma importância relevante na hora de submeter um plano de negócios a potenciais investidores.

Precisamos de projetos estruturantes que apóiem a indústria nacional de software e os serviços de tecnologia da informação para o desenvolvimento de soluções inovadoras. A educação é o caminho para o desenvolvimento de uma nação rica e soberana. Os países em desenvolvimento, principalmente, devem investir pesado para formar uma sociedade de “inventores” e criar estímulos e regulamentações para aqueles que vivem da propriedade intelectual, pois as indústrias da criatividade servem para fortalecer a economia.
Setembro / 2007

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O papel da economia criativa no desenvolvimento sustentável

"Desenvolvimento Sustentável significa usarmos nossa ilimitada capacidade de pensar em vez de nossos limitados recursos naturais”. (Juha Sipila, Finlandia)

Foi a partir desta afirmação de uma cidadã finlandesa, retirada do site da ONG Crescente Fértil (http://www.crescentefertil.org.br), com sede em Resende, município do Rio de Janeiro, que decidi fazer um paralelo da questão ambiental com a economia criativa.

A cultura, se considerada de forma abrangente, pode ser o centro do desenvolvimento econômico e social de uma sociedade. É fator de consolidação de identidade; de divulgação da imagem regional e internacional; de aglutinação de comunidades e grupos; de educação e inclusão social; de promoção da diversidade; de geração de criatividade e inovação; de atração de mão-de-obra qualificada; de renda, emprego, impostos, infra-estrutura e riqueza; de fator de regeneração de uma região; e de vantagem competitiva de vários países.

Atividades culturais no mundo correspondem a 7% do GDP Mundial (Gross Domestic Product, índice que mede o tamanho de uma economia, equivalente ao nosso Produto Interno Bruto) e com perspectiva de crescimento de 10% ao ano (Unesco, 2006).

Como parte de um novo conceito mundial, a Economia Criativa é aquela que, independente de ter finalidade cultural, inclui a cultura, a criatividade e o conhecimento em seu processo de produção. Fazem parte da Economia Criativa, por exemplo, o artesanato, as publicações, a moda, a música, o audiovisual, o design, a web, o software, os videogames, a fotografia e as indústrias do lazer e entretenimento em geral, entre outras indústrias culturais.

As indústrias dos serviços, do entretenimento e do lazer crescem no mundo todo e envolvem grande variedade de competências. Contribuem com o desenvolvimento social e econômico, sendo um importante instrumento para promover o desenvolvimento local. Políticas que mobilizam atividades culturais, ao invés de reforçar a desigualdade, atenuam os desequilíbrios sociais, regionais, econômicos e políticos.

O desenvolvimento dessas atividades depende muito pouco de recursos escassos, pois o uso dos recursos culturais nunca os exaure. A economia hoje é baseada no tangível em um mundo que convive com a escassez da matéria. É aí que entra a necessidade de darmos toda a importância a esta nova forma de produção cultural, valorizando nossa ilimitada capacidade de pensar em vez de nossos limitados recursos naturais, como afirma de forma inteligente a cidadã finlandesa.

O Brasil, através do BNDES, é referência em Economia Criativa com foco no desenvolvimento sustentável e pioneiro a ter bancos de desenvolvimento apoiando a Economia da Cultura. Desde a década de 90 o Banco consolidou a preocupação com a natureza e passou a condicionar as operações de crédito à preservação ambiental. Desde então, todos os projetos para serem aprovados devem respeitar as regras ambientais adequadas ao princípio do desenvolvimento sustentável.

O cenário atual é favorável à expansão das atividades de promoção cultural e de preservação ambiental no Brasil. As iniciativas governamentais neste setor passam por um período de forte afirmação e a consciência da dimensão econômica da cultura vem crescendo, assim como a de seu papel na concepção de políticas sociais que favoreçam o respeito à diversidade cultural, ao pluralismo e aos direitos humanos.

Na área de Direitos Culturais e Cidadania é deficiente uma integração da cultura com as demais políticas sociais. Esta experiência precisa ser aperfeiçoada, pois precisamos de uma abordagem cultural mais sólida e profunda com relação aos povos indígenas, tradições, línguas ameaçadas de desaparecimento e, principalmente, conhecimento sobre a natureza.

Através da defesa e da instrumentação podemos desenvolver programas de resgate da cultura local que envolve diversas manifestações culturais e democratiza o conhecimento. Hoje, o artesanato criado com matérias-primas locais garante o sustento direto de muitas famílias e, indiretamente, mantém tantas outras. Além da inclusão econômica, o artesanato promove a inclusão social por meio da valorização da identidade cultural e do desenvolvimento de novos produtos ancorados no meio ambiente.

Nosso grande desafio é oferecer resposta adequada à importância cada vez maior do meio ambiente no campo cultural e suas crescentes exigências e adaptações. Na busca pela neutralização dos gases do efeito estufa e de olho no mercado ambientalmente correto, diversas iniciativas já foram tomadas com foco na restrição de políticas poluidoras.

A neutralização do carbono vem sendo adotada por diversas empresas nacionais e seus efeitos sentidos pela comunidade. Apoiar o estudo, a pesquisa, o registro, o conhecimento e os meios de difusão sobre as práticas ambientais referentes à natureza é de extrema importância, tendo em vista nosso compromisso com as gerações presente e futuras.

Fevereiro/2008

A Educação na Colômbia

Contexto Político

A Colômbia está alicerçada politicamente em dois partidos: liberal e conservador. Segundo a análise de alguns funcionários do Governo para a maioria dos colombianos ambos não têm identidade própria e suas propostas se confundem.

A situação de conflito armado traz algumas peculiaridades como o “desplazamiento”, expulsão de famílias inteiras de suas terras, que vão, como verdadeiros refugiados, se deslocar para outras áreas em busca de paz.

O desplazamiento já atingiu mais de 3 milhões de cidadãos colombianos. No governo do presidente Andrés Pastrana Arango, foi iniciada uma tentativa fracassada no sentido de garantir um território neutro (zona de despeje) para os guerrilheiros que controlam a produção de coca.

A guerrilha, que no passado tinha um caráter ideológico e uma participação política mais ativa, hoje é vista com descrédito por grande parte da população colombiana, que enxerga suas ações como meramente comerciais.

O exército retomou a ofensiva militar contra os guerrilheiros e os únicos entendimentos se limitam às negociações de troca entre autoridades seqüestradas e os guerrilheiros presos.

O policiamento ostensivo nas ruas, também a cargo do exército, causa desconforto até para brasileiros habitantes de grandes metrópoles. Carros têm os porta-malas revistados e pessoas seus pertences checados ao entrarem em shopping centers e lugares públicos. Por todo o lado se vêem cães farejadores de bombas.

A Educação na América Latina

Segundo o ex-ministro chileno Ernesto Schiefelbein, no relatório “Em busca da escola do século XXI”, (UNESCO/UNICEF) na América Latina a maioria das crianças de 10 anos (93,2%) estão matriculadas e permanecem na escola por 5 a 7 anos.

As crianças também se matriculam na escola relativamente cedo – 83,1% entram aos 7 anos na escola e ao redor de 40% dos alunos da primeira série são repetentes.

A evasão escolar se inicia aos 12 anos e alcança cerca de 3% do grupo desta idade, aumentando logo em seguida para 9% nas crianças entre 13 e 14 anos. Estes números indicam que a necessidade de uma maior cobertura está superada e que agora o problema se concentra na qualidade.

O acesso é quase universal, mas a qualidade um tanto deficiente.

Panorama Educacional na Colômbia

O gasto por aluno na Colômbia é baixo, pouco superior a US$ 400 por aluno/ano, muito menos que o Brasil, que gasta cerca de US$ 800. No entanto, é motivo de orgulho para os estudiosos colombianos quando se comparam com outros países da América do Sul que gastam muito mais sem ter um retorno proporcional.

A Colômbia tem quase 11 milhões de alunos na educação básica, distribuídos em 26,5 mil escolas. O setor privado atende a 30% do total de matrículas. Até o ano 2000 as taxas de reprovação eram de 9% no ensino fundamental e de 11% no médio.

Um decreto de 2004 reduziu artificialmente esta taxa proibindo-a de ser superior a 5%. Mexendo no termômetro, ao invés de atacar as causas da doença, o país possui hoje uma taxa de 4,2%. A evasão escolar é alta, de 8,4%.

No Ensino Fundamental, a educação possui 9 anos, como no Brasil. Já o Ensino Médio possui apenas 2 anos e está se discutindo a ampliação para 3 anos, o que também se equivalerá ao sistema brasileiro.

Maria Isabel Fernandes Cristovao, brasileira naturalizada colombiana que ocupa um importante cargo no Ministério da Educação, desempenhando a função de Diretora de Qualidade da Educação Básica, articula os três eixos da política educacional colombiana: avaliação e indicadores educacionais; programas de melhoramento (onde equipes de acompanhamento orientam tecnicamente diretores de escola e secretários municipais) e articulação institucional, que trata dos temas “transdisciplinares” (educação sexual, cidadania, saúde escolar, etc.).

“Nossa atual Ministra da Educação foi Secretária de Educação de Bogotá. Antes de ser uma pessoa com forte base teórica, ela sabe o que é gerir um sistema educacional de uma grande cidade.”, disse Isabel Cristovao.

Educação Rural

É no setor da educação rural que a experiência colombiana mereceu destaque internacional, sobretudo com o Programa Escuela Nueva, que já existe há 32 anos e foi considerado pelo Banco Mundial, em 1989, como uma das três experiências exitosas nos países em desenvolvimento de todo o mundo.

O programa vem sendo estudado e visitado por 35 países e está em implantação em diversos outros como Brasil, Chile, México, Peru, Etiópia, Uganda, Quênia e futuramente a Índia.

O programa de escolas rurais colombiano, que inclui o Programa Escuela Nueva, institucionalizou-se como uma política pública própria ao reconhecer que seus indicadores eram muito piores do que as médias das escolas urbanas, o que ocorre na maioria dos países.

As escolas rurais, com muita freqüência não recebem recursos, a infra-estrutura é precária e isto acaba refletindo no desempenho dos alunos. A educação na Colômbia ocorre, em sua maioria, em escolas rurais multisseriadas.

As escolas multisseriadas são pequenas unidades com menos de 25 alunos de idades variadas e em séries diferentes, estudando ao mesmo tempo com um mesmo professor.

Esta atividade educacional constitui-se em um verdadeiro desafio ao mestre que tem de desenvolver atividades distintas a grupos de alunos com graus de maturidade e níveis de escolarização completamente distintos.

Dentro deste contexto a Colômbia montou uma estratégia educacional bastante inovadora. Iniciou com uma discriminação positiva destas escolas, oferecendo material didático diferenciado, e buscando capacitar os mestres em uma nova metodologia educacional.

Como os recursos são escassos, o livro didático é utilizado na escola por cerca de 10 anos e o setor produtivo (petroleiros e cafeteiros, por exemplo) se associou ao governo no financiamento e, até mesmo, na gestão da política educacional.

Projetos Pedagógicos Produtivos

O atendimento ao alunado das escolas rurais pode acontecer inclusive fora das escolas, através de um professor itinerante que visita cada família e seleciona alguém desta para desempenhar o papel de orientador (chamado de agente formador) de cada criança. Pode ser qualquer membro da família, um tio, ou um avô, por exemplo.

Este professor viaja centenas de quilômetros, muitas vezes atravessando áreas de conflito, para ensinar as crianças em suas casas e passar atividades escolares para que os agentes formadores ensinem as crianças. A visita é feita uma vez por semana ou quinzenalmente.

Este atendimento acontece porque as crianças moram a cerca de três horas de distância da unidade escolar, entre outras razões. Eles importaram a tecnologia brasileira de aceleração de aprendizagem, e aplicam aos alunos muito defasados pela repetência ou pelo ingresso tardio no sistema educacional.

O governo colombiano desenvolveu para o ensino médio o sistema de “Projetos Pedagógicos Produtivos”, onde os alunos aprendem a desenvolver atividades relacionadas com a vocação econômica de cada região.

Um projeto como este pode relacionar conhecimentos de biologia, química e matemática em uma área rural, por exemplo, desenvolvendo uma atividade educacional em uma plantação de café.

Os currículos tiveram que ser flexibilizados para se adequarem às safras agrícolas. Também foi uma forma de evitar a evasão na época das colheitas, quando as crianças acabam por abandonar a escola para ajudar os pais. Esta prática não é encorajada, mas foi preciso se adequar à realidade.

As disciplinas são oferecidas em módulos, de tal sorte que o aluno vai sendo avaliado de acordo com o alcance de metas de cada disciplina. Isto fez reduzir drasticamente a repetência, aumentando a permanência escolar.

Controle de Custos


O Ministério da Educação colombiano possui um avançado sistema de controle de custos e de acompanhamento dos indicadores educacionais. Segundo o economista Luis Fernando Toro, as escolas rurais cresceram de cerca de 17 mil em 2002, para mais de 33 mil no ano seguinte.

Hoje atendem a 460 mil estudantes. Ainda segundo Toro, o investimento que os alunos receberam a mais que os colegas urbanos, atingiu 220 mil pesos colombianos por ano, ou US$ 115.

Houve um aumento em anos de escolaridade de 18,13% nos últimos seis anos.

Escuela Nueva

Ao visitar a Fundação “Volvamos a la Gente” qualquer um ficaria impressionado com a simplicidade das instalações de uma das mais conceituadas organizações não-governamentais educacionais da Colômbia.

A própria diretora executiva, Vicky Colbert, recebe os pesquisadores e conta um pouco de sua trajetória que se iniciou ainda com o uma jovem formada em sociologia e chegou a vice-ministra da Educação em 1989.

“Esta é uma missão de vida. Minha e das pessoas que trabalham nesta fundação.”, afirma Vicky, se referindo à sua subdiretora técnica Carmem Pérez, que, entre outras atividades, trabalhou também no Brasil, no escritório da UNICEF.

O Programa Escuela Nueva nasceu como uma estratégia pedagógica para apoiar o professor que lecionava sem qualquer metodologia ou infra-estrutura para turmas multisseriadas.

Ele transformou-se em uma política pública que trouxe resultados surpreendentes, tanto na aprendizagem, com o incremento de 52% no desempenho de matemática, conforme atestou a UNESCO/OREALC (2004/2005), como também no desenvolvimento de atitudes positivas e o fortalecimento da auto-estima de crianças e jovens.

A partir desta iniciativa, a Colômbia superou todos os demais países em desempenho educacional de escolas rurais em toda a América do Sul e Caribe, perdendo apenas para Cuba.

Escuela Nueva: passo-a-passo

O programa tem várias características interessantes e inovadoras. A primeira delas é que em uma sala de aula normal é muito comum um professor se colocar como o centro do conhecimento, deixando os alunos, de forma passiva, como meros receptores das informações.

Na sala de aula multisseriada o professor não pode ter a mesma postura. Ele deve ser pró-ativo, tratando de cada aluno de forma individualizada. Em outras palavras, ele não pode se limitar a fazer uma aula expositiva. Ao contrário, deve desenvolver um projeto educacional de acordo com a realidade de cada estudante.

Este é o princípio fundamental para a classe multisseriada. Cada aluno tem que desenvolver atividades específicas e receber uma avaliação que respeite seu tempo de aprendizagem e o seu desenvolvimento educacional.

Além disso, três outras características foram muito importantes: a produção de um material didático de qualidade; a formação continuada do magistério com efetiva modificação das atitudes dos professores em sala de aula e a criação dos círculos de aprendizagem que funcionam através de tutoria, onde jovens estudantes de nível médio e superior fazem o desenvolvimento educacional de 12 a 15 crianças de extrema pobreza ou vítimas da violência que assola o país.

Exceto pelos círculos de aprendizagem, tanto a produção de material didático, quanto a formação continuada eficiente são princípios amplamente defendidos pelos educadores brasileiros.

No entanto, o Brasil não consegue bons resultados neste setor, entre outras coisas devido ao fato de a produção dos livros didáticos estarem a cargo do setor privado. Cada professor brasileiro de escola pública adota um livro livremente, o que dificulta o estabelecimento de um método em larga escala com base no material de sala de aula. É democrático, mas compromete a eficiência do sistema.

O mais surpreendente é uma política pública educacional se manter durante 30 anos a ponto de trazer resultados numa área onde as mudanças demoram décadas a aparecer.

Na Colômbia, como no restante da América do Sul, pudemos constatar pelo testemunho dos agentes de governos e membros de organizações não-governamentais que os programas governamentais flutuam ao sabor das composições políticas e do mosaico de poder que cada eleição estabelece.

Então por que este projeto constituiu-se numa exceção?

Segundo Vicky Colbert, vários fatores levam a isto: as avaliações positivas de organismos internacionais como o Banco Mundial, que financiou parte do programa; as articulações com os professores da comunidade local, que fizeram com que a metodologia permanecesse, a despeito da anuência do governo; e o mais importante, a aliança com o setor produtivo que, ao contrário do que na maioria dos países de forte base econômica agrícola, entendeu que uma maior escolarização era sinônimo de maior produtividade.

Os cafeteiros, por exemplo, abraçaram a causa educacional a ponto de um de seus sindicatos patronais, o Comitê Estadual de Cafeteiros de Caldas, com sede em Manizales, possuir um setor de extensão empresarial. Seu líder, Pablo Jaramillo Villegas, acompanha o dia-a-dia das escolas, supervisiona os investimentos em educação e reúne com as autoridades do Ministério.

“Um cafeicultor com baixa escolaridade não consegue utilizar as modernas tecnologias. Não sabe calcular o quanto de defensivo agrícola deve ser diluído em uma base de água para combater pragas como a broca que é a mais comum. Além disso, são muito mais resistentes às mudanças. Um produtor analfabeto produz menos de uma tonelada por hectare/ano, enquanto que um produtor bem escolarizado chega a produzir quatro vezes este número.”, explica Jaramillo.

Este tipo de parceria entre o setor público e o setor privado está muito além das ações de responsabilidade social, ou dos movimentos esparsos dos empresários mais conscientes que clamam para que o governo cumpra com sua obrigação de oferecer educação de qualidade para todos os cidadãos.

Trata-se do setor produtivo associar-se ao país para co-gerir a transformação de um setor, garantindo mais do que a sobrevivência de um programa, mas sim uma experiência a ser adaptada e reproduzida pelas demais nações em desenvolvimento.

Escola e Café


Ao chegar a Manizales o que mais impressiona é a paisagem. Embora lá fique a sede do Comitê Estadual de Cafeteiros de Caldas, devido a altitude, não existem plantações nos arredores.

São vários os programas desenvolvidos pelo comitê:

Escuela Nueva: conforme descrito anteriormente, tem como principal objetivo fortalecer a educação rural dos municípios nas cinco séries da educação básica.

Escola e Café: prepara desde cedo os alunos para fazerem parte da próxima geração de cafeicultores. Dentro do próprio currículo escolar são desenvolvidos os conhecimentos para a produção do produto do qual dependem suas famílias, para que o cultivo de café seja uma possível opção de vida.

Educação Média voltada para o Mercado de Trabalho: são oferecidos currículos escolares voltados para as exigências do mercado de acordo com as localidades. Desenvolvendo o que eles chamam de “Competências Laborais Gerais” trabalham a gestão da informação, liderança, trabalho em equipe, responsabilidade ambiental, tomada de decisões, entre outras necessárias no dia-a-dia do trabalho.

Ampliação do Ensino Fundamental: normalmente o Ensino Fundamental só é amplamente oferecido até a 5ª série. Através da metodologia do programa Escuela Nueva estão sendo oferecidas as séries 6ª a 9ª do Ensino Fundamental colombiano.

Escola Virtual: oferece maior acesso à informação e ao conhecimento através da internet e de softwares educacionais. Também permite que alunos, professores e pais tirem suas dúvidas através do correio eletrônico, respondidas por professores universitários em, no máximo, 24 horas.

Além destes projetos também é oferecida nivelação de educação primária para os adultos, que alcançam apenas 3.7 anos de escolaridade, contra os 8 anos que hoje alcançam seus filhos.

Colônia Escolar de Manizales


É possível sentir o ambiente diferenciado de uma escola rural colombiana em apenas uma visita. Uma professora somente (eram duas, mas uma entrou em licença médica) consegue controlar cerca de 50 alunos das diversas séries primárias, distribuídos em duas salas de aula ao mesmo tempo. Algo impensável no contexto brasileiro.

Cada turma de alunos tem um aluno presidente, vice-presidente ou secretário que fazem parte de um comitê. Os comitês servem para dar responsabilidades aos estudantes, que se reúnem a cada quinze dias para preparar as atividades das semanas seguintes.

Os comitês são variados e a ele se unem outros alunos de tal sorte que cada um fica com um tema: recreação e esportes, matemática, meio-ambiente, etc. “As aulas são muito livres, mas muito organizadas”, afirma Aracelly Cortés, pedagoga do Comitê Estadual de Cafeteiros de Caldas e co-autora de diversas cartilhas de capacitação de docentes.

A professora, Liliana Giraldo, se orgulha de estar à frente da escola e pede que cada líder se apresente aos visitantes: “Levante-se e explique qual a sua função!”. Prontamente, cada um dos responsáveis fala orgulhosamente de suas atribuições.

Maio / 2007

Quantidade sem qualidade

O Chile está entre os países da América Latina que mais investiram em educação nos últimos 15 anos. Desde 1990, quando o país recuperou a democracia, as autoridades enfrentam o desafio de transformar a educação, meta que mantém até hoje em termos de qualidade e igualdade.

Diferente das escolas brasileiras, segundo o professor e pesquisador chileno da Universidade Adolfo Ibanéz, José Joaquín Brunner, as escolas chilenas praticamente sanaram os problemas de infra-estrutura.

Segundo Brunner, hoje, entre outros avanços, o investimento em infra-estrutura permitiu que 100% das escolas tenham laboratório de informática, com aproximadamente 30 alunos por computador, e que 95% delas estejam conectadas na Internet.

Além disso, quase todas as crianças estão na escola - 98% no ensino fundamental e 92% no ensino médio -, a rede de ensino conta com horário integral para todos os alunos e os professores receberam um aumento de aproximadamente 150% entre 1994 e 2005 (o salário havia caído 30% entre 1982 e 1990).

As diretrizes que têm guiado a Reforma Educativa Chilena são a ampliação do acesso à educação, o melhoramento das condições de aprendizado, políticas de melhoria da educação e atenção à população em áreas de vulnerabilidade social, melhoramento e ampliação da infra-estrutura, a profissionalização do docente, atualização curricular, implantação de um sistema eficaz de avaliação de professores e alunos para a educação básica, formação técnica e educação permanente e uma política de educação superior.

Segundo o Boletim 2006 do Conselho Consultivo do Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe (PREAL), a maioria dos governos deu passos importantes nos últimos anos, colocando um número maior de crianças freqüentando as escolas.

Em termos de qualidade, igualdade e eficiência, os níveis permanecem baixos e os avanços são poucos ou inexistentes. Embora o sistema educacional chileno seja bem diferente do brasileiro, temos muitos problemas em comum.

Baixos níveis de aprendizagem, pouca responsabilização e a crise do magistério são pontos comuns aos países latino-americanos que privam suas crianças e jovens do conhecimento e das habilidades necessárias para progredir nas sociedades modernas.

A crise do magistério é o ponto que gera mais discussão do ponto de vista filosófico. Segundo o deputado socialista chileno Carlos Montes, estudioso de temas ligados à igualdade e financiamento educacional e presidente da Comissão de Educação da Câmara, muitos professores não têm compromisso e estão desmotivados.

“As famílias não funcionam, então, o professor tem que ser mestre e família. Dizem que os professores são velhos, mas são eles que formam pessoas. Os colégios com os alunos mais vulneráveis são os que têm os professores mais técnicos”, disse Montes.

Para o deputado os concursos não selecionam bons profissionais e as políticas públicas não são práticas. Ele afirma que deve haver uma pré-qualificação do profissional que vai enfrentar a sala de aula. “Os mestres são bons em suas linguagens, mas não enxergam o sistema educacional de forma mais ampla”, declarou.

Segundo ele “O professor não deve ser apenas bom ou ruim, deve ser cumpridor de suas responsabilidades”. Montes afirma ainda que 95% da influência vem de quem faz políticas públicas: “É necessário motivar os atores da educação. A educação é um fenômeno de pessoas”.

Sistemas de avaliação são essenciais para medir o progresso da educação

Ainda que autoridades e especialistas discutam se o sistema de avaliação deve estar ou não atrelado a bônus salarial, todos parecem concordar que os governos devam avaliar seu sistema educacional.

Alejandra Mizala, pesquisadora da Universidade do Chile, defende, inclusive, prova de avaliação da escola feita pelos pais. “Aqui, os pais preenchem os questionários em casa e os filhos entregam diretamente para a equipe de avaliação externa, no dia da prova”, informou Mizala.

A conclusão tirada pela delegação do estado do Rio de Janeiro, liderada pelo consultor e ex-secretário de educação do estado, Claudio Mendonça, que esteve por três dias estudando o sistema educacional chileno, foi que falta incorporar o discurso educacional às famílias brasileiras.

“É importante que as informações das avaliações sejam divulgadas de forma clara para que os pais e responsáveis possam cobrar mais dos governos", afirmou Mendonça.

Dante Contreras, professor e pesquisador especialista em rendimento escolar da Universidade do Chile reforça o importante papel da família. Para ele, embora os pais possam escolher as escolas dos filhos baseados na qualidade, na verdade estudos provam que a escolha se dá por ela estar perto de casa ou do trabalho, entre outras conveniências.

A grande discussão chilena está na distribuição dos recursos de acordo com a realidade de cada escola, o que se aplica a todos os países da América Latina, e na melhoria da qualidade da educação. “Os alunos estão na escola, mas ela não é boa”, afirmou Contreras.

Para o pesquisador, muitas crianças e jovens chilenos dispõem de educação de má qualidade. Nos estabelecimentos particulares, que fazem exame de admissão, esta realidade melhora um pouco, embora haja pouca seleção devido ao fato de a oferta ser maior do que a procura.

Na verdade a diferença de desempenho entre as escolas públicas e as particulares que recebem recurso do governo não é significativo. Para Contreras, o que falta é regulamentação por parte do governo, sobretudo na formação dos professores: “Existem universidades chilenas que formam professores em 6 meses, com aulas apenas nos finais de semana”, criticou ainda o pesquisador.

A solução encontrada por Sergio Bitar, ex-ministro da educação, foi reunir com os reitores das principais universidades chilenas para discutir a formação dos professores. “O problema maior é o de formação dos professores. Ela deve ser de 4 a 5 anos em todas as instituições”, declarou o ministro.

O grupo assinou um plano para ser colocado em prática entre 2005 e 2015 onde seriam aplicados mais recursos e esforços para a implantação de currículos novos em todas elas.

O sistema educacional chileno tem algumas características bastante distintas do Brasil. Existem escolas de três tipos: particulares, particulares subvencionadas pelo governo, através do pagamento direto para escola de um valor pré-fixado por aluno, e o sistema público, que é inteiramente municipal.

Patrícia Matte, presidente da Sociedade de Instrução Primária, atende a mais de 17 mil alunos no regime de subvenção do governo e é considerada um dos exemplos melhores sucedidos neste setor.

O método de alfabetização desenvolvido pelo seu avô em 1904 é motivo de orgulho para o país, apesar dos protestos dos pedagogos que defendem o sistema construtivista.

Em suas escolas a maioria dos alunos tem plena alfabetização em cinco meses e pouquíssimos repetem o primeiro ano do ensino fundamental sem alcançar fluência no idioma escrito.

Entre suas técnicas de aprendizagem está a alocação de um professor a mais na sala de aula, o que parece compensar a lotação de quase 40 crianças em cada uma – a recomendação internacional é de não ultrapassar 25.

Reivindicações são importantes

Segundo o Deputado Carlos Montes, quando recentemente a lei permitiu às escolas subvencionadas a cobrarem contribuições “voluntárias” dos pais, aumentou a segregação dos alunos. Antes havia mais mistura social e o efeito cultural do preconceito foi devastador.

A primeira grande manifestação estudantil chilena foi um desastre. Os alunos foram para as ruas de forma violenta fazer apenas reivindicações econômicas: queriam a isenção da taxa de ingresso para os exames universitários e transporte gratuito nos sete dias da semana.

A sociedade respondeu mal à agressividade dos estudantes e a segunda manifestação, pacífica, ganhou a todos. Ela foi liderada pelos estudantes das melhores escolas municipais e tinham dois objetivos.

Um deles, composto de reivindicações econômicas, prontamente atendidas pelas autoridades. O outro, pró-melhoria da educação, reivindicava qualidade e o fim do lucro no setor educacional. Finalmente a sociedade havia despertado para o problema.

Em meio a este quadro conturbado, pesquisa divulgada recentemente pelo Centro de Estudos Públicos – fundação privada financiada por empresas – em diversos veículos de comunicação, apontou que 74% dos pais entrevistados acredita que os professores que não possuem desempenho de acordo com as exigências da escola deveriam poder ser demitidos e que 91% gostaria de ter informações detalhadas sobre os resultados da prova nacional de avaliação externa para saber como foi a escola de seus filhos.

Cristián Cox, espinha dorsal da reforma educacional chilena e responsável pela Unidade de Reforma Curricular do Ministério da Educação nos últimos 15 anos, também aponta como principal problema a formação dos professores.

“Enquanto o Ministério da Educação não superar a autonomia universitária e intervir no processo de formação de professores nas universidades, nunca teremos profissionais que possam aliar bom nível de conteúdo à boa capacidade didática”, afirmou Cox.

Outro caminho apontado pelo Ministério para enfrentar o problema é a certificação docente, coordenada nacionalmente por Jorge Manzi, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica Chilena (PUC).

Trata-se de um intrincado sistema de avaliação onde o professor se auto-avalia, é avaliado pelo diretor da escola e também por um colega de outra unidade. Além disso, 16.500 professores já tiveram suas aulas filmadas para avaliação por uma equipe de nada menos que 400 profissionais coordenados pela PUC.

Desses professores, 4% apresentaram rendimento insuficiente e está na mira do governo para ser demitido. Isto promete ser mais uma queda de braço entre o sindicato e a presidente Michelle Bachelet.
Setembro / 2006