Entrevista com Professora Lina Kátia, especializada em Educação para a Matemática e mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora que atualmente é Coordenadora da Unidade de Avaliação da Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino e Extensão.
Carol:
Em uma apresentação disponível na rede você afirma que a avaliação é importante para produzir o diagnóstico, identificar os fatores explicativos do desempenho escolar, orientar as políticas públicas voltadas para a equidade e qualidade da educação e dar publicidade para prestação de contas à sociedade. Qual a sua posição quanto à responsabilização?
Que tipo de responsabilização seria eficaz – quais os critérios para a aplicação de incentivos ou sanções?
Professora Lina Kátia:
Em primeiro lugar vamos fechar um pouquinho o que significa responsabilização nesse nível. A gente tem uma informação, até por meio de uma avaliação de desempenho, seja ela a Prova Brasil, o SAEB, ou das redes púbicas estaduais. Este desempenho está atrelado à uma responsabilização sim. Somos todos nós co responsáveis com a qualidade da educação ofertada e com a promoção da equidade, que é a igualdade de oportunidades educacionais. A forma que vai ser feita a responsabilização pode diferenciar de várias maneiras. Quando os resultados das avaliações externas chegam até a escola, é uma forma de responsabilização. Estou dizendo “olha, é este o retrato, o diagnóstico de sua escola.”. “É este o retrato do diagnóstico de seu estado, do seu país.”.
Temos também outro tipo de responsabilização, que se diz respeito a questão de incentivos. De incentivo financeiro tanto pra professor, quanto pra gestores escolares, ou estendido a todos que envolvem a escola. Eu acho uma política importante e sou a favor disso, desde que todas as pessoas envolvidas com a educação cumpram com seu compromisso. Uma política adequada de investimento na educação pelos governantes, uma política adequada na gestão escolar. Quando eu me refiro à esta responsabilização da escola, estou dizendo que sou a favor por quê? As pesquisas estão mostrando que 35% dos fatores que influenciam no desempenho escolar são intra escolares. Se eu vou premiar ou dar algum incentivo em relação a cumprir metas que sejam claras, exeqüíveis, que deixem claro para a escola o que ela precisa fazer eu acho que vale a pena uma política neste nível.
Carol:
A mídia sozinha não mobiliza a sociedade para a reflexão em torno do tema. O que fazer para que sejam organizados debates e utilizados os resultados?
Professora Lina Kátia:
Um ponto de partida seria justamente na formação inicial. Temos dois movimentos. Um é de pessoas que hoje trabalham na educação que tiveram sua formação inicial seja na década de 70 ou 80 e que esta questão não era uma realidade da educação brasileira. A avaliação externa, a utilização de resultados, a criação de indicadores educacionais, isso veio atrelado às reformas educacionais a partir da década de 90, e principalmente com a institucionalização do SAEB. Temos hoje uma realidade que precisa fazer parte dos cursos de graduação nas universidades. Este é um ponto essencial. Outro ponto essencial é fazer parte dos cursos de pós graduação, dos cursos de mestrado, tanto lato senso quanto stricto senso. Têm que fazer parte de uma ementa, de um currículo, de uma proposta da educação superior, seja ela em nível de graduação ou pós. Este seria o primeiro movimento.
O segundo movimento é que as próprias redes de ensino propiciem cursos de formação continuada. Observamos que os estados promovem as suas avaliações, verificamos o movimento da mídia divulgando os resultados, mas não vemos a apropriação da escola como um todo, utilizando esses resultados como uma ferramenta diagnóstica, que pode contribuir para um processo de intervenção na escola. E este é o objetivo principal da avaliação censitária. Tem que fazer parte da formação inicial, dos cursos de pós e formação em serviço. E também na medida em que se envolve a comunidade escolar, e trabalha uma proposta diferenciada na escola, começamos a perceber a necessidade do uso desses indicadores . Quando verificamos a importância deles, tomamos consciência de onde eles podem contribuir com a escola para uma gestão educacional eficiente, começamos a fazer um movimento de se reciclar para isso.
Carol:
Em que projeto você está envolvida no momento?
Professora Lina Kátia:
Estou na Coordenação do CAEd, Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação, que tem três linhas de atuação: avaliação educacional, gestão da formação escolar e formação de gestores. Especificamente na área de avaliação estou coordenando o sistema integrado de avaliação das redes estaduais do CAEd, que desde o ano passado trabalha com cinco estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Sul.