segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dedução X Descrição

O multiculturalismo defendido pela professora Ana Canen propõe um currículo composto de conteúdos básicos que possam servir de estímulo à atividades escolares para o desenvolvimento das habilidades e competências, para que tanto aluno quanto professor possam lidar com a diversidade cultural. 

“É preciso formarmos cidadãos com a capacidade de admitir que existem visões diferenciadas da vida e que temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos próprios valores”, afirmou a professora no post do dia 13 de abril.

Para ilustrar este tema, disponibilizo aqui cena do filme  alemão O Enigma de Kaspar Houser, de 1974 (Werner Herzog, "Jeder für sich und Gott gegen alle"), onde o professor rechaça a habilidade do aluno de chegar à mesma conclusão através de outro raciocínio.

Vale a pena conferir:



 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Teach for America

O Teach for America (TFA) é um programa americano que procura colocar alunos de universidades de elite para dar aulas nas escolas localizadas nos bairros com piores indicadores. Ligado à uma organização sem fins lucrativos de mesmo nome criada em 1989, tem como objetivo reduzir as desigualdades de acesso à educação de boa qualidade nos Estados Unidos.

O programa recruta e treina jovens talentosos, com alto potencial de liderança e capacidade de serem agentes de mudança para serem professores durante 2 anos em escolas públicas em regiões de baixa renda.

Desde 1990 mais de 17.000 pessoas fizeram parte do TFA, atingindo mais de 1.000 escolas e mais de 3 milhões de alunos. Ana Gabriela Pessoa, ex-aluna da Universidade de Harvard, forneceu mais informações sobre o programa.

Ana é bacharel em Política, Filosofia e Economia e mestre em Educação. Perguntada se existem pesquisas comparativas em relação ao fato de estes profissionais não terem formação pedagógica ela esclareceu que no caso do Teach for America a formação pedagógica não faz muita diferença.

“A teoria mostra que não faz diferença, pois eles recebem treinamento durante 5 semanas e depois têm treinamento em serviço ao longo do ano”, afirmou. “Em relação ao controle da sala de aula os professores reclamam do mesmo problema que os professores brasileiros, mas eles têm técnicas para gerenciar esta situação.”

Leia matéria da Veja sobre o programa.

Conheça o site oficial.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

AS DEZ MELHORES PRAIAS DO BRASIL

O JORNAL BRITÂNICO THE GUARDIAN LISTA AS DEZ MELHORES PRAIAS DO BRASIL!
         

1.Alter do Chão (Pará)

2.Sancho (Fernando de Noronha)

3.Toque (Alagoas)

4.Taipus de Fora, península de Marau (Bahia)

5.Caraiva (Bahia)

6.Arpoador (Rio de Janeiro)

7.Lopes Mendes, Ilha Grande (Rio de Janeiro)

8.Fazenda (São Paulo)

9.Bonete (São Paulo)

10.Lagoinha do Leste (Santa Catarina)


Veja as fotos...


Deu no ex-blog do Cesar Maia.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte I)

Entrevista com Ana Canen sobre proposta curricular para uma escola eficaz. Ana é PhD em Educação pela Universidade de Glasgow e mestre em Educação pela PUC-Rio.

Carol: Qual sua posição em relação às novas tecnologias? 

Ana: Como tudo na área da educação, podem ser usadas para efeitos positivos e para objetivos que não vão resultar em maior aprendizagem. A tecnologia no ensino se encaixa nesta perspectiva. Costumo dizer que trabalhar com a diversidade cultural dos nossos alunos, professores e escolas implica na sensibilidade real à esta diversidade. Isto é o que eu defendo no multiculturalismo, que é o conjunto de respostas à diversidade cultural. O que é a diversidade cultural? Diversidade étnica, racial, de classes sociais, de linguagem. Então se o professor, se o gestor educacional está atento à esta diversidade, se está sensibilizado para isso, pode usar qualquer recurso para ter resultados positivos, de valorizar essas culturas, de estabelecer um diálogo com essas culturas e promover efetivamente a aprendizagem.

No caso das tecnologias é a mesma coisa. O professor ou os alunos têm um computador, ou mesmo outras tecnologias como o vídeo, a televisão, são recursos que ajudam imensamente a área da educação. Nós somos muito privilegiados de termos esses recursos dentro da evolução da tecnologia. Mas isso não diminui o que eu tinha dito antes, é o professor que vai selecionar as mensagens que quer transmitir aos alunos, as atividades que quer comentar por intermédio das tecnologias, a forma como ele vai apresentar. Conjugar a tecnologia, que é um avanço extraordinário com a sensibilidade para um diálogo com as culturas, dosar as mensagens em linguagem compreensível, isso é um casamento perfeito.

Carol: O uso das tecnologias da informação e comunicação na educação está cada vez maior: a interação via rede, softwares de ensino, capacitação de professores para uso das novas tecnologias, experiências com e-mail, chat, portais, blogs etc. Tudo isso provoca o jovem de tal forma que sua atenção fica difusa?

Ana: Depende de como é tratado. Eu sempre defendo que você deve incentivar o aluno a ser um pesquisador. Ele não pode ser simplesmente uma pessoa que vai absorver passivamente os conhecimentos. Para ele ser um pesquisador, o professor primeiro tem que estar sensível à diversidade cultural. Quem são esses alunos com quem ele lida, de que comunidades são provenientes, quais são as culturas, quais são as linguagens, pra ele poder utilizar as ferramentas que vão ao encontro deste diálogo.

Em segundo lugar, ele tem que provocar de modo que esses alunos sejam pesquisadores. Como é que se faz uma pesquisa? Toda pesquisa surge de um problema. Se não há problema não tem o que pesquisar. Então quando a tecnologia é utilizada para que o aluno venha ser um pesquisador, para problematizar algum aspecto da realidade e pesquisar como resolver esse problema, ela não vai ocasionar a difusão. Existe a difusão se o professor não direcionar a pesquisa de forma correta. O tema não pode ser muito genérico, tem que dar um problema, ser mais específico, para o aluno não dispersar, porque o aluno não sabe o que é relevante e o que não é. Não sabe se um hiperlink é importante para o tema principal…

Sem direcionamento o aluno pega tudo o que vê pela frente como se fosse uma pesquisa, mas ele se perdeu, ficou confuso, se dispersou, como vc colocou muito bem. Mas se o professor dá um problema específico, faz perguntas exatas, a pesquisa virtual tem foco, parte de um problema, não é um tema amplo. Por mais que o aluno tenha várias informações naquela tecnologia, ele não vai se dispersar porque tem um fio condutor, tem  um problema a responder. A base tanto para a tecnologia quanto para qualquer outra área da educação é o professor que conjugue os benefícios da tecnologia com um bom preparo que ele tenha, uma boa formação seja inicial ou continuada que lhe permita fazer de seus alunos pesquisadores, problematizadores. Ele guia, dá o fio condutor para este aluno mergulhar nos recursos tecnológicos e promover as respostas, promover uma aprendizagem efetiva.

Carol: Quanto maiores as oportunidades, mais chances as crianças e os jovens têm de desenvolver suas potencialidades. A escola tradicional está engessada e seu trabalho defende “diferentes idéias para diferentes pessoas e instituições.”. A escola eficaz deve oferecer educação musical, artística, e/ou religiosa;  ensinar línguas e direitos humanos e/ou do consumidor?

Ana: O currículo é algo muito importante, central mesmo em uma escola. Uma escola eficaz, um sistema educacional eficaz se assenta num currículo eficaz. O que seria no meu entender um currículo eficaz? Seria tanto o da escola quanto o de formação dos professores. Não só de formação inicial, aquela que acontece nas universidades, como a formação em serviço, através das parcerias, que as secretarias de educação fazem com professores, com pesquisadores, com instituições de ensino superior para fornecer um currículo de formação de professores, neste caso em serviço continuado, que seja um currículo efetivo, que seja um currículo relevante. O currículo eficaz não precisa ser um somatório de conteúdos, porque senão acrescenta-se um monte de conteúdos e isso acaba que não tem fim.

O currículo é a alma da Educação. Tanto o das escolas como o de formação inicial e em serviço, dos professores. O que seria um currículo relevante? No caso da escol não adianta ficar acrescentando conteúdos. O currículo deve ser uma articulação muito bem feita entre conteúdos, competências e habilidades. Você não quer só uma criança que decore conteúdos de todas as áreas, você quer que ela seja estimulada a desenvolver competencias e habilidades. Por exemplo, você quer que ela desenvolva uma habilidade de respeito às diferenças se você está dentro de uma visão multicultural. Uma competência de lidar com essa diversidade, pois ela vai ser um profissional que no futuro vai ter que lidar com o mundo em transformação, com as tecnologias, vai ter que lidar com a diversidade das pessoas, tem que ter esta competência de aceitar as diferenças, de lidar com isso. 

Então o currículo eficaz não é só aquele que vai acrescentando conteúdos, é aquele que articula esses conteúdos à criação, ao desenvolvimento de habilidades, e para isso não precisa de uma quantidade enorme de conteúdos. Alguns conteúdos básicos que possam servir de estímulo à atividades como estudos de casos, laboratórios, simulações, dramatizações que vão estimular o desenvolvimento dessas competências, a competência de lidar com a diversidade cultural. A competência de admitir que existem visões diferenciadas da vida e que nós temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos próprios valores.

Existem visões diferenciadas da vida e nós temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos valores.

Habilidade de estudo. Muitas pessoas as vezes têm na escola aqueles conteúdos todos, mas o currículo não está fornecendo oportunidades de desenvolver habilidades de estudo individual, de procurar informação na tecnologia, de problematizar um assunto. Direitos humanos, teatro, música, são partes importantes do currículo, mas tem que haver em primeiro lugar um diálogo, desses conteúdos com a diversidade das crianças, com as habilidades. Nem todos tem potencial para todas as coisas.Tem que tentar conhecer a diversidade cultural, étnica, de linguagem dos alunos e tentar dar à eles um pouco de poder para escolher caminhos nesse currículo de acordo com as suas habilidades e suas tendências é um dos caminhos bons. Em algum momento, se ele em conjugação com professores e gestores achar que a música é um caminho que tem a ver com suas potencialidades, tem que perseguir níveis mais aprofundados de música. Oferecer a oportunidade de um currículo variado no primeiro momento, mas tentar entender a diversidade cultural e ir aprimorando de acordo com as potencialidades, este é o primeiro aspecto.

O segundo aspecto é que todos esses conteúdos não sejam exaustivos, que sirvam não só para dar as informações necessárias como também para estimular competências e habilidades. Competência para lidar com o diferente,  a habilidade de lidar com a diversidade, habilidades éticas, comportamento ético. O currículo eficaz não é um somatório de conteúdos. São alguns conteúdos que estejam em diálogo com as potencialidades, com as singularidades das crianças, com as necessidades do momento atual e que forneçam elementos para se trabalhar com habilidades e competências e não só com conteúdos a serem detonados.

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte II)

Carol: Essa mudança parece ser mais fácil nas escolas particulares. Como ter um sistema educacional multicultural público, articulando igualdade e diferença, que ofereça de tudo um pouco para que não haja excluídos? Através de parcerias?

Ana: Tudo sempre é possível e mesmo nas escolas particulares isto não é tão tranquilo como às vezes pensamos. O vestibular, por exemplo. Mesmo as escolas particulares acabam sendo pressionadas pelos alunos e pela comunidade a oferecerem alguns conteúdos que vão se adicionando em função dos exames de ingresso nas universidades de prestígio. Mesmo essas escolas particulares nem sempre conseguem desenvolver currículos diferenciados, que valorizem a potencialidade dos alunos, que às vezes têm habilidade para música, ou teatro, mas como isso “não cai” no exame de ingresso nas universidades, acaba sendo deixado de lado.

A primeira parte foi mais para dismistificar o ensino particular, que embora tenha mais liberdade também existem esses cosntrangimentos. No caso do sistema público, como trabalhar respeitando essa diversidade de caminhos e ao mesmo tempo prestando atenção em conteúdos mais universais? Nós nunca conseguiremos e nem acho que é a intensão fazer um currículo totalmente diversificado e desligado dos conhecimentos que são valorizados pela sociedade. Dos conhecimentos numa era altamente tecnologizada como a nossa. Dos conhecimentos que hoje estão mundializados, as fronteiras foram praticamente quebradas através da internet, da TV a cabo. Temos o mundo muito mais interconectado e o currículo eficaz tem que preparar esses alunos para lidar com este mundo de hoje, um mundo globalizado, tecnologizado, diversificado.

Alguns conhecimentos têm que ser trabalhados independentemente das potencialidades dos alunos. São conhecimentos que a escola é chamada a desenvolver. Fazer currículos completamente diversificados e adaptados apenas às crianças das comunidades que procuram aquela escola não é o desejável. Ao mesmo tempo também desprezar as potencialidades dos alunos e as habilidades que devemos desenvolver apenas em função dos conhecimentos socialmente valorizados é cair no extremo oposto.

Eu recomendo um equilíbrio. O currículo eficaz deve equilibrar os conhecimentos, as habilidades e competências de um mundo globalizado, tecnologizado com aqueles conhecimentos mais humanistas que muitas vezes estão sendo esquecidos. Desenvolver habilidades para o aluno apreciar uma boa música, entender que  existem músicas de outras culturas, diferentes do ambiente cultural dele. Ampliar o repertório cultural das crianças. E valorizar a cultura que eles trazem. É difícil mas não é impossível, desde que nós não interpretemos isso como  um acúmulo de conteúdos a serem decorados. Trabalhar no equilíbrio entre conhecimentos socialmente valorizados, conhecimentos que ampliem o repertório cultural das crianças que chegam nessas escolas. Mas ao mesmo tempo tudo isso em diálogo com as culturas que eles trazem, sem menosprezar aquelas culturas, fazendo pontes e incentivando as suas habilidades é o currículo eficaz.

Como isso pode ser feito no sistema público? Temos que contemplar dentro do currículo da escola  momentos em que vamos trabalhar habilidades de estudo individual. Tem que ter algum tempo nessa escola, nesse currículo, em que ele vai aprender como fazer um dever de casa sozinho, como correr atrás de uma informação, como selecionar na internet as informações relevantes, são habilidades. Ele pode usar isso nos trabalhos de várias matérias. Em algum momento o foco não vai ser a matéria em si, mas a habilidade de correr atrás de uma informação relevante. Isso é uma habilidade necessária no mundo de hoje. Se cai no exame de entrada na universidade ou se não cai não importa, é uma habilidade que tem que fazer parte da vida dele.

Em outro momento se o aluno tem muito jeito para música, para  oralidade, mas não é muito bom na escrita, deve-se incentivar a oralidade, para ele se tornar um grande orador ou trabalhar com teatro, com alguma atividade que dependa da potencialidade dele. É o momento do currículo em que devemos valorizar a cultura dele. E trabalhar conteúdos matemáticos, por exemplo, sempre em diálogo com a cultura do aluno, pois se o professor falar muito difícil sem levar em conta o conhecimento prévio dele vai prejudicar seu aprendizado.

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte III)

Carol: Qual a importância do currículo para a educação? Como ele deve ser formulado pelos gestores e trabalhado pelos professores? Como o currículo pode tornar as aulas mais atraentes e efetivamente contribuir para a formação das crianças e jovens?

Ana: O currículo eficaz faz a criança aprender, dialoga com a cultura dela mesmo que seja para ensinar outros conhecimentos, incentiva as potencialidades individuais desses alunos, tenta trazer não só conteúdos, mas competências e habilidades que são requisitadas nesse mundo globalizado. Para isso tem que ter planejamento, para ver como será a distribuição do tempo, pois o próprio currículo não pode ser organizado só em conteúdos. O mapa curricular tem que ter habilidades, competências e a avaliação tem que medir isso. Não adianta fazer um currículo muito interessante e eficaz se na hora de avaliar esquecer tudo e avaliar somente matemática, português, desprezando todo o trabalho.

Tem que ser uma formação de professores que trabalhem com parcerias, pesquisas na área e que também dialogue com os saberes dos professores, senão cai no mesmo erro. Se for dar um curso de formação de professores conteudista, sem dialogar com os saberes que eles desenvolveram acaba por não penetrar nas expectativas e na prática desse profissional. Ele acaba  fazendo tudo da mesma forma e a escola não muda.

Carol: Que projeto você está coordenando no momento?

Ana: No momento estou coordenando um projeto de multiculturalismo em educação. Justamente com foco na formação continuada de professores. Traçar estratégias em conjunto com os professores, em conjunto com as escolas, secretarias e fundações para repensar essa formação continuada desses professores levando em conta a cultura socialmente valorizada, o currículo que temos que ministrar para as escolas, mas ao mesmo tempo equilibrando isso com o respeito e a valorização à diversidade dos alunos.

Como fazer isso? Não há receitas prontas, o projeto está tentando ver experiências, o que já está sendo feito, e acima de tudo se baseia em encarar a escola como uma organização multicultural. Como espaço onde transitam professores diferenciados, alunos com backgrounds culturais dos mais diversificados. Escolas que são instituições ligadas às secretarias, que estão ligadas ao Ministério, que estão ligadas à sociedade. Portanto é uma organização multicultural porque tem que trabalhar com um currículo que leve em conta essa diversidade toda, mas que ao mesmo tempo tem que ter seus indicadores, tem que ser avaliada por aquilo que ela é chamada a realizar, que é ampliar o repertório cultural dos alunos, preparar para o mercado, e para isso tem que ter avaliações e indicadores de larga escala.

Como podemos trabalhar com a formação continuada de professores e de gestores numa perspectiva multicultural? Essa perspectiva não recaindo somente numa diversidade total, mas equilibrando momentos em que essa escola tem que levar em conta seu compromisso e tem que ser avaliada por esse compromisso de currículo e momentos em que as avaliações têm que levar em conta a diversidade mesmo, dos alunos e da escola. Por exemplo, uma escola que fica em determinada região e que é mais afetada pela violência. Como é que é essa cultura? Além dos instrumentos mais homogêneos como é que podemos avaliar levando em conta essa diversidade? Como é que preparamos os professores e gestores para sair da forma homogênea e equilibrar momentos mais homogêneos de avaliação com momentos mais heterogeneos de entender aquela escola. Essa é a linha do projeto. Entender a escola como organização multicultural e entender que estratégias e que currículos de formação de professores nós podemos desenvolver para prepará-los para esses desafios.

Carol: Nesse projeto o estudo do currículo é somente para a formação de professores ou também direcionado aos alunos?

Ana: Este projeto está mais direcionado para a formação de professores, mas indiretamente acabamos tocando no currículo das escolas, porque ao preparar professores temos que ver um pouco qual é o currículo que esses professores e gestores enfrentam no seu cotidiano. Entendendo currículo como seleção da cultura e conjunto de atividades desenvolvidas, Embora o foco seja a formação continuada de professores acabamos por também ver o tipo de currículo que esses professores estão lidando, como podem lidar melhor com ele e que perspectivas podemos apontar para esse currículo para também fazer um trabalho conjugado.

 Março/2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Coral Vivo perde patrocínio

O Projeto Coral Vivo perdeu o seu patrocínio principal, do Programa Petrobras Ambiental.

Inicialmente idealizado por pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ, nasceu em 1994 com o estudo  dos processos de estruturação, formação e renovação da comunidades coralíneas brasileiras e após alguns anos foram definidos os principais aspectos da reprodução de corais recifais, de seu recrutamento em áreas recifais “saudáveis”, de relações com variáveis ambientais abióticas, crescimento, distribuição no ambiente, etc.

Em 2003 o Projeto Coral Vivo foi criado, quando recebeu apoio financeiro do Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA. Em seu início, o Projeto visava realizar pesquisas voltadas para a recolonização de áreas degradadas, promovendo o ingresso de corais. O Projeto, então inserido na ONG Instituto Recifes Costeiros, de Pernambuco, atingiu todas as metas propostas e o convênio foi bem sucedido.

Devido ao reconhecimento do esforço despendido para executar este convênio, em 2006 o Arraial d’Ajuda Eco Parque, que cedia ao projeto espaço por comodato, passou a ser patrocinador do mesmo. Concomitantemente, foi elaborado projeto submetido ao Edital Petrobras Ambiental 2006 que, segundo integrantes, não pôde ser renovado em 2009 por questões burocráticas.

Os recifes estão órfãos.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Entrevista sobre a formação de professores

Entrevista com a Doutora em Educação (PUC-SP) Guiomar Namo de Mello, que atualmente é diretora da EBRAP, Escola Brasileira de Professores. Guiomar também possui Pós-Doutorado em Educação Comparada pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres, Inglaterra.

Carol:

Você está escrevendo o Plano de Educação do Estado de São Paulo em conjunto com o Professor Ruy Berger. Que eixos estão sendo priorizados?

Guiomar:

É claro que eu não estou fazendo isso sozinha, tem um grupo grande que está escrevendo. O que vai ser priorizado são as linhas da política educacional que a secretaria está adotando neste momento e que tem a ver de um lado com maior responsabilização, com toda a política do IDESP, pagamento de bonus etc. No eixo da qualidade um amplo movimento de reforma curricular, que a secretaria começou praticamente há um ano, um ano e meio, e que está sendo consolidado agora, e que mudou muito o tipo de educação em serviço dos professores, pois vamos fazer toda esta parte volta especificamente para a proposta curricular. Não será mais uma educação em serviço sem foco. O plano pretende também fortalecer todo o processo de municipalização, que continua correndo no estado de São Paulo. Esses são alguns dos eixos importantes das políticas atuais.

 

Carol:

Qual o tipo de responsablilização que ocorre no estado de São Paulo?

 

Guiomar:

O que a secretaria implementou e que já saiu no jornal por esses dias (24 de março de 2009) a partir da avaliação do SARESP, que é o sistema de avaliação do estado de São Paulo, calcular um indicador semelhante ao IDEB, mas eu não saberia dizer aqui os detalhes técnicos, e a partir deste indicador será possível avaliar o quanto que a escola progrediu e a partir do progresso de cada escola estabelecer um incentivo financeiro para os professores, para os diretores etc. Na linha da responsabilização eu acho que o carro chefe é este.

 

Carol:

Qual sua opinião sobre a progressão continuada?

Guiomar:

A progressão continuada já foi implantada em São Paulo há quase 10 anos. Ela gerou, por uma série de circunstâncias históricas - que em parte eu nem vivi, pois não estava no Brasil – uma resistência bastante grande da parte dos professores. Na verdade eu considero que não são resistências à questão técnica da progressão continuada, devem ter por trás delas outras questões que não se explicitam, se revelando em relação à progressão continuada, que maldosamente alguns professores chamam de promoção automática.

 

Carol:

Que não é a mesma coisa…

Guiomar:

Absolutamente. A Promoção Automática não é uma questão pedagógica, é uma questão de falta de ética profissional. Quem não ensina um aluno o ano inteiro e manda ele pra frente, não está cumprindo o seu dever. Agora se ele ensinou e se o aluno pode crescer neste ano o pouco ou o muito que o aluno cresceu tem que ser considerado ao final do ano. Você não pode fazer uma criança voltar eternamente atrás sem considerar o que ela cresceu durante um ano. Isso quer dizer progressão continuada, literalmente. Um progressso que se dá de maneira continua.

 

Carol:

Como isto é feito na escola pública? Como recuperação paralela?

Guiomar:

Como recuperação paralela. Como um processo de avaliação interna, que tenha muito a ver com a compatibilização da avaliação interna com a externa. Esta avaliação interna que a escola deveria fazer não olhando o espelho retrovisor, porque quando isso acontece você só vê o que aconteceu, e não o que falta para frente. A avaliação serve muito para dizer não só  o que você andou, mas o quanto falta pra você andar. Se você só olhar para trás, sempre vai querer voltar para o ponto de partida. Nós cometemos esses absurdos com as crianças. Ela reprovar em uma série em uma disciplina. 

No ano seguinte ela faz a série inteira novamente, incluindo as disciplinas em que foi aprovada, e quando chega no final do ano corremos o risco de ela reprovar não mais na disciplina que ela tinha reprovado no ano anterior, mas em outra, e isto põe em cheque a avaliação dos professores, a avaliação da escola. Como é que se faz com uma criança que foi reprovada em matemática e que tem que fazer português de novo, se o professor de português considerou que ela tinha aproveitamento suficiente? 

É uma questão muito delicada e que deveria ser posta para reflexão de todas as equipes escolares. Toda vez que fala-se nisso no exterior as pessoas acham que estamos enganados, que não deve ser assim. E é. Nós sabemos que é. Algumas escolas inovaram, criaram a dependência, principalmente no ensino médio, que eu saiba, mas isso não é uma prática constante nas nossas escolas.

 

Carol:

Vai ver isto  acontece porque a escola pública já sofre com a contratação de temporários, a falta de infra-estrutura… Como é que ela vai gerenciar um sistema de dependências, de recuperação paralela?

Guiomar:

Pois é. E no meio desta precariedade toda quem paga o pato é o aluno, a corrente arrebenta para o lado dele. No meio desta precariedade, com critérios que são muito discutíveis…

 

Carol:

Guiomar: Como você vê o problema da formação de Professores pelas Universidades Brasileiras. Como esse problema pode ser enfretado?

Guiomar:

Este é o objeto da minha palestra e é bem longo. Eu acredito que é o grande obstáculo construirmos uma educação de qualidade no Brasil. Enquanto a gente não mexer seriamente, profundamente, na própria estrutura da formação do professor, eu acho que não vamos conseguir sustentar um movimento de melhoria. Podemos até conseguir uma melhoria e aí entra uma nova leva de professores e temos que começar tudo novamente. 

O professor é aquele que vai sustentar isso por 25 anos pelo menos. Se você tiver um professor bem formado que seja devidamente apoiado ao longo e principalmente no início da carreira, ele terá condições de durante 25 anos dar sustentação à uma inovação para que ela crie raízes. E isto não vai acontecer com este tipo de professor que hoje estamos formando. Estamos formando professores que não tem nem mesmo a educação básica no ponto em que é preciso ter para poder entrar numa classe para dar aula na educação básica.


Carol:

Então o problema seria político, não?

Guiomar:

É um problema técnico porque existem divergências inclusive quanto às questões do currículo, enfim, questões pedagógicas, e é um problema político muito sério porque envolve uma instância da educação que é  o ensino superior sobre a qual aqueles que empregam os professores não têm poder de decisão. Teríamos que ter com o ensino superior um tipo de relacionamento aonde de fato as secretarias estaduais e municipais pudessem dizer o que é que falta nos professores que eles estão recebendo. 

E o que é que eles precisam realmente para que a universidade faça uma força para poder responder à esta demanda. Hoje em dia a universidade praticamente nem escuta o que dizem as pessoas que trabalham na educação básica. Temos um curso de educação, uma equipe preocupada, mas os professores vêm de todas as areas, da Física, da Química, da Matemática, da História, da Geografia, da Língua Portuguesa…. Cada um desses é um feudo dentro do ensino superior brasileiro. E nós não temos nenhuma instituição que articule isso debaixo de um projeto pedagógico comum. Então estamos muito mal servidos em matéria de formação de professores.

 

Carol:

O programa Teach for America[1] é um projeto que incentiva os melhores alunos de universidades como a Harvard a dar aulas por um período de 2 anos em escolas públicas americanas, com a promessa de serem melhor colocados no Mercado de trabalho após a experiência e já está sendo implantado em outros países. O que você acha deste projeto?

Guiomar:

É um projeto muito interessante, que tem tido sucesso nos Estados Unidos, mas ele não é uma resposta de massa. Não seria aqui e não é nos EUA, porque não se precisa de professor as centenas, precisa-se de professor aos milhares. Ou a centenas de milhares. No Brasil temos cerca de 2 milhões de professores exercendo efetivamente o magistério? Se tivermos um turn over de 5% disso, que não é muito, teremos 100 mil professores por ano para formar. As faculdades que têm muita vaga tem 3, 4 mil… E essas já são as grandes que oferecem ensino massificado totalmente sem qualidade. As universidades públicas que têm o ensino um pouco mais qualificado, são restritas no ponto de vista de vagas. 

Então temos um problema para o qual não adianta restringir só à universidade pública, temos que chamar a iniciativa privada. 90% dos professores do Brasil se formam e se preparam na iniciativa privada. Temos que contra com eles, não há como. Neste sentido é mais fácil até, porque a iniciativa privada é sensível ao Mercado, então se eu tenho um Mercado que exige uma coisa, ela vai atrás. Acontece que as próprias secretarias não sabem fazer a demanda do perfil profissional do professor. Além desse desencontro entre Educação Básica e Ensino Superior,esse lado de cá também não tem clareza do perfil de professor que precisa, o que cria uma situação de anomia total, que parece bem mas não está e quem paga o pato são os alunos.

 

Carol:

Que outro projeto você está envolvida no momento?

Guiomar:

Estou preparando um projeto para a FESP-RJ, de iniciação de novos professores, que em espanhol se chama INSERSIÓN, e talvez fosse um nome até melhor. Inserção do novo professor na carreira do magistério.

 

Carol:

Tem a ver com reciclagem?

Guiomar:

Não, tem a ver com o que acontece quando o professor termina seu curso de graduação e vai para o exercício. O que acontece quando o médico termina sua graduação e vai para o exercício? Ele vai para um hospital onde ficará trabalhando sob a supervisão de um médico experiente. Você pega um aluno recém formado em engenharia e não dá um projeto de grande envergadura para ele fazer os cálculos. Não se põe um piloto que saiu do treinamento para pilotar um boing sozinho. 

Mas nós pegamos um professor que saiu do banco da faculdade e jogamos ele dentro de uma sala de aula com 35 alunos, com enorme heterogeneidade. Alunos com universo de vocabulário, de cultura, totalmente díspares. E pedimos à ele para dar conta desses alunos. Estamos pedindo muito mais do que ele tem condição de dar. Agora agregue à isto que ele saiu de um curso de má qualidade e está pronto, é claro que a escola brasileira não dá certo. É admirável os casos em que ela dá, apesar de tudo. Esses casos temos que estudar com muito carinho, porque esses é que são anomalia num sistema como este.



[1] Será tema de outro post, na entrevista com Ana Gabriela Pessoa.

Pós Graduação Verde


Estão abertas as inscrições para a 1a turma do mais abrangente curso de Pós-Graduação Latu Sensu sobre o Mercado de Carbono e Mudanças Climáticas, agora no centro do Rio de Janeiro (*):

 

MBE EM PROJETOS DE MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) E MERCADOS EMERGENTES

 

A coordenação deste curso será realizada pela consultora Denise de Mattos Gaudard em conjunto com a América Latina Sustentável (ALS) e a Universidade Católica de Petrópolis e para conhecer o conteúdo programático das disciplinas disponíveis no programa, basta visitar o site.



O curso também pode ser ministrado, sob consulta, em turmas fechadas, na modalidade IN COMPANY e os módulos também podem ser oferecidos individualmente.

 

(*) Informações Gerais:

 

- Duração: 16 meses

- Numero Total de Horas: 360 Horas

- Data da Aula Magna (com apresentação da ALS): 14 de abril de 2009

- Data de inicio: 17 / abril / 2009    

- Dias e horários previstos: às 6ª feiras, das 18:30 h às 21:30 h, e sábados, das 08 h às 17h

- Local: Rua da Assembléia 77, 3o andar – Centro, Rio de Janeiro (CAERJ)

- Valor do investimento: Tx. R$ 380,00 +14 de R$ 380,00. Total: R$ 5.700,00

 

Telefones para contatos e duvidas (ALS): (21) 2621-4587 / (21) 2613-5257 (Luciana, Sergio)

Email: als@alsustentavel.com.br

 

As matrículas já estão abertas para todos os interessados que poderão obter maiores informações no site.

 

 

(*)A INSCRIÇÃO NESTE CURSO GARANTE AUTOMATICAMENTE:

 

a. Matricula no Curso de atualização em Gerenciamento de Projetos

 

b. Inscrição e participação nos seguintes eventos:

 

b.1. V Congresso Nacional de Excelência em Gestão

b.2. Simpósio Internacional de Transparência nos Negócios. 

 

Contato:

 

Denise de Mattos Gaudard
Consultoria Socioambiental

Coordenação Acadêmica ALS - UCP

55(21) 2246-7255 - 8875-8820 
denisedemattos@gmail.com
Skpe:denisedemattos  Msn:denisedematos@hotmail