segunda-feira, 20 de julho de 2009

Educação, criatividade e atividade física

Um amigo me enviou um vídeo de Ken Robinson intitulado “Escolas matam a criatividade?”, e pediu que eu desse minha opinião. Ken Robinson é especialista em criatividade e educação, um campo que não vem sendo desenvolvido ultimamente nos grandes sistemas educacionais. Pois bem, achei genial. E a segunda parte do vídeo, que também pode ser assistida aqui, me emocionou.

Tive que estudar a fundo John Dewey para uma dissertação recente e fiquei profundamente apaixonada. Assim como Robinson, Dewey defende que devemos montar um sistema educacional onde as crianças desenvolvam sua habilidade de pensar e utilizem sua energia física para fazer com que o aprendizado seja facilitado.

“Experimentos comprovam que quando as crianças têm a chance de utilizar atividades físicas que provocam seus impulsos naturais para brincadeiras, o aprendizado é facilitado e ir para a escola torna-se agradável, e não mais um fardo (Dewey, 2007, p.147)*.

O que eu mais gostei de aprender com John Dewey foi esta importante conseqüência que as atividades físicas tem no processo educacional. “Em parte, a atividade física se torna uma intrusa no processo educacional. Sendo considerada completamente separada da atividade mental, torna-se uma distração, um mal a ser encarado, já que todo aluno tem um corpo que acompanha sua mente à escola. E este corpo é um turbilhão de energia, que não consegue ficar parado” (Dewey, 2007, p.108)*.

Conclusão: ao invés de utilizar toda esta energia a favor, o professor passa a maior parte do tempo sufocando a atividade corporal, que é considerada maléfica para a atividade mental, impondo atitudes rígidas, silêncio e punições para os que não se enquadram. Rotula-se o problema como sendo de disciplina, quando na verdade é um problema do próprio sistema educacional.

* Tradução livre: Dewey, J. (2007). Democracy and education. Middlesex: The Echo Library.

Assista aqui:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

CENTENÁRIO DO THEATRO MUNICIPAL

A Folha Carioca (jornal com distribuição gratuita em vários pontos da Zona Sul) traz, na edição de Julho, um artigo sobre o nosso Theatro Municipal, que fez ontem 100 anos. O artigo é do pesquisador musical Rafael Fonseca (http://www.guiadosclassicos.blogspot.com/).

CENTENÁRIO DO THEATRO MUNICIPAL

Uma cidade como o Rio, envolta em belezas naturais estonteantes, pode dar-se ainda ao luxo de ostentar um dos mais belos teatros líricos do planeta. Não é exagero. Há coisas belíssimas na velha Europa, como o Palais Garnier em Paris (aliás, inspiração para os projetistas de 1905) ou a Semper Oper de Dresden. Ou, mundo afora, a beleza moderna da Ópera de Sidney, na Austrália. Mas nosso Municipal tem um charme qualquer, suas proporções, seu rebuscamento sem grandes exageros, é imponente sem perder a simpatia... Coisas do carioca.

Me dá um certo medo quando leio que a primeira-dama do estado ficou muito entusiasmada com a idéia de se reabrir o Theatro com um show do Roberto Carlos. Nada contra o “rei”, mas cada macaco no seu galho. Afinal, o “rei” canta até em navios, não lhe falta espaço para suas apresentações. Não sou conservador nem careta, acreditem, mas há funções específicas para coisas específicas. A Sala Cecília Meireles é própria para música de câmara; colocar ali uma grande orquestra é o mesmo que enfiar um elefante num fusca (e não se trata de “espaço”, mas de acústica). A Cidade da Música teria sido uma feliz idéia se trouxesse para o Rio – e o Brasil – a idéia moderna de sala de concertos: palco central e platéias ao redor. E nosso Municipal é o grande teatro para ópera, balé, grandes concertos, orquestras internacionais, atrações que pedem um local como esse: um de nossos cartões-postais.

Nas décadas de 1920 e 30 o Municipal recebia com freqüência quase anual a Filarmônica de Viena, e, não raro, o regente era ninguém menos que Richard Strauss, o compositor de Salomé e Assim falou Zaratustra. Os anos 50 viram, aqui, Maria Callas e Renata Tebaldi no auge de suas vozes. Já nos 60 e 70, a “Era de Ouro”.

Exemplos? O maestro Kurt Masur, em 1974, regeu um ciclo inteiro das obras de Beethoven à frente da Sinfônica Brasileira. Os solistas? Ora, basta dizer que um que criou um baita caso – não tocava com alemães, por causa da IIª guerra – foi o Isaac Stern (o Concerto para violino teve de ser exceção na série e teve regência do Karabtschevsky). Outro exemplo, o Karl Richter, maior autoridade em Bach na época, que aqui se apresentou várias vezes, regendo, inclusive, a Associação de Canto Coral. Essa agremiação era considerada uma das melhores no mundo graças ao trabalho da Cleofe Person de Mattos e trouxe, várias vezes, o maestro francês Jacques Pernoo. Aqui, sob a direção dele, encenou-se na década de 60 “O Martírio de São Sebastião” com música de Debussy tendo Geneviève Page no elenco, ou a música inovadora de Honegger em “Le Roi David” e “Jeanne d’Arc au bucher” com a presença do ator francês Henri Doublier.

Eu poderia me perder fazendo uma lista imensa. Mas prefiro encerrar com um apelo, dirigido às nossas autoridades, de todas as esferas: dêem ao Municipal, e aos nossos símbolos culturais, o destino que eles merecem. Ah! E não se esqueçam que para voltarmos a ter uma programação assim, é preciso um elemento prosaicamente fundamental: dinheiro.

RAFAEL FONSECA

é pesquisador musical

www.guiadosclassicos.blogspot.com