sexta-feira, 5 de junho de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

Ziraldo

Essa eu não conhecia...


quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ensinando o cérebro

Hoje na minha aula de "Teaching the brain" (Ensinando o Cérebro) aprendi um monte de coisas que servem para ajudar o aprendizado:

  • Estar sempre hidratada (o) - BEBAM água o tempo todo. O cérebro é composto de água e o que faz a ligação entre os neurônios é essa amiguinha que mtas vezes não lembramos¡¡¡¡¡¡¡ A água permite que os neurônios se comuniquem uns com os outros e façam a sinapse das idéias com mais rapidez;

  • Dormir bem - nós sabemos disso ;)

  • Tempo para memorizar - ter a prática e o tempo de maturação; eles explicam aqui como o aprendizado e o tempo para dormir e depois de acordar relembrar. Estudos comprovam que como os adolescentes são muito agitados durante à noite não devem estudar muito cedo, pois quando eles acordam precisam de tempo pra se estabilizar, portanto o horário ideal é começar após às 9h. Lembro-me bem de detestar estudar cedo e a minha mãe nunca nos colocou em atividades escolares tão cedinho. Tive cursos de língua estrangeira duas vezes por semana, mas como eu era uma entusiasta não me atrapalhou... Mesmo assim penso que estudarmos à tarde e à noite foi mto bom, pq nunca reclamamos.

  • Café da manhã com proteína!!! - acreditem, os carboidratos fazem mal para o aprendizado. Proteínas e café são muito bons pela manhã. Duas fatias de bacon fazem mais efeito do que um pão com manteiga em termos de aprendizagem. Mas se vcs querem também  melhorar os hábitos alimentares basta mudar os componentes. Ovos mexidos com presunto magro, sabe-se lá. A criatividade é o limite. 

  • Nosso cérebro muda até o dia em que morremos (acho que a maioria de nós aqui sabe disso, é um órgão que atrofia se não for utilizado). O que dói numa operação cerebral é o corte que é feito na caixa toráxica, não o "cutucar do próprio cérebro". Me assustei muito com isso... Significa que quando mexemos no conteúdo do cérebro não dói. Podemos estar anestesiados no crânio e o especialista mexendo na massa cefálica e não sentiríamos nada. Nadinha!!!! É possível fazermos experimentos tocando o cérebro aberto para ver quais zonas são estimuladas com você acordadinho - mesmo pq vc tem que estar "ligado" pra eles verem o que muda com os estímulos. Bom, resumindo, o melhor remédio para o cérebro é a prática. Qualquer uma. Se você gosta de ler, leia. De memorizar através de jogos de cartas, jogue o quanto puder. E por aí vai! 

  • Estudos comprovam que comer frutas durante 4-5 dias antes de um exame é excelente. Ainda não pesquisei o suficiente, mas estou mto interessada neste assunto. Minha professora PHD hoje inclusive disse que se o exame ou a atividade permitir comida durante o período, temos que levar frutas, sucos de fruta (especialmente laranja) e doces! Sim! Aproveite pra comer um pacote de M&M's pq o açúcar te deixa alerta e te faz esperto. Se o exame for grande principalmente. Se vc tiver qualquer chance de ficar cansado, leve uma bala do tipo Toffee, bem doce, qualquer coisa com bastante açúcar. Vai te dar energia pra continuar e melhorar sua performance.

É isso...

Um post mais informal ;)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Entrevista Nigel Brooke - Parte I

Entrevista com Nigel Brooke sobre Escola Eficaz. Nigel é professor convidado da Universidade Federal de Minas Gerais e consultor do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Faculdade de Educação. PhD em Estudos de Desenvolvimento da Universidade de Sussex, Inglaterra.

Carol: em 2005 o senhor participou de um seminário organizado pelo Instituto Unibanco sobre Diagnóstico e Alternativas de Políticas Públicas. O senhor termina a apresentação com a pergunta “A responsabilização tem futuro como política educacional no Brasil?”  Qual seria a resposta hoje? O que mudou no Brasil até o presente?

Nigel Brooke: a responsabilização tem duas vertentes. Tem uma que é política e outra que é mais técnica. Aos poucos estamos resolvendo esses problemas técnicos. As primeiras políticas de responsabilização aqui no Rio de Janeiro, Ceará e outros lugares funcionavam na base da comparação entre o nível de desempenho dos alunos na escola em um ano e no ano seguinte para ver se a escola tinha conseguido melhorar.

Esta é uma metodologia bastante primária, é preciso muito mais do que isso. No mundo ideal você tiraria desta equação o nível sócio econômico dos alunos. Ou seja, você controlaria o nível sócio econômico da aprendizagem anterior dos alunos. O que o estado de São Paulo está fazendo agora, de estabelecer metas para a escola e só oferecer premiação ou bonus para as escolas que cumprem as metas já é um passo adiante em comparação com a metodologia anterior.

A parte política continua tão enrolada, tão difícil e os sindicatos não estão aceitando a idéia de que os professores de alguma forma devam ser responsabilizados pelos seus resultados. Isso ainda é um conceito muito complicado.

Carol: que países adotam a responsabilização como política de melhoria de resultados escolares que poderiam ser usados como exemplo de sucesso?

Nigel Brooke: sem a menor dúvida o país que mais avançou nessa área são os Estados Unidos, mas aqui na América Latina o Chile é que se destaca mais. Honestamente eu não sei quais são os países mundo afora que tem poltítica de responsabilização, mas o que se vê é que ao mesmo tempo que você estabelece política de responsabilização para os professores é preciso também construir políticas para todos os outros órgãos, agências e responsáveis pelo sistema educacional.

Os responsáveis pela pelas condições, pela criação de políticas de formação do professor. Todos os níveis governamentais que de alguma maneira devem contribuir para fornecer o serviço educacional. Não é só professor que é responsável. O professor tem toda razão de reclamar, porque até agora – pelo menos no Brasil – quem fica com esse encargo é somente o professor. 

Entrevista Nigel Brooke - Parte II

Carol: o que é uma escola eficaz? Quais fatores efetivamente influenciam uma escola nesse sentido?

Nigel Brooke: para responder essa pergunta eu preciso escrever um livro (risos). Um outro livro (mais risos). Para dar uma resposta curta a escola eficaz é aquela que faz mais do que você esperaria dela levando em consideração os alunos que ela tem. Isso pode parecer cruel, mas a verdade é que há uma correlação fortíssima entre o nível sócio econômico dos alunos e a probabilidade de sucesso escolar.

Se a escola consegue sucesso com alunos cujos antecedentes ou condições não te levam a acreditar nesse sucesso ela está sendo eficaz. Não significa que é a melhor escola ou que tem os melhores resultados, mas levando em consideração os alunos que têm se consegue ir além do que estatisticamente você esperaria desses alunos, a escola está sendo eficaz.

Agora, como transformar uma escola que não é eficaz em escola eficaz é muito complicado. Muito mais complicado do que fazer pesquisa, porque mexe com a maneira da escola se enxergar, com a questão da autonomia da escola para de fato alterar o seu rumo, depende das pessoas daquela escola, dos incentivos, depende de muitos fatores.

Na verdade mesmo não tendo tanta tradição de pesquisa nesta área no Brasil, o que tem de informação acumulada que provavelmente tem aplicação aqui é muito. Não é por não saber como fazer uma boa escola. Não é por não saber como formar um bom professor. Não é por falta de informação que as nossas escolas não se modificam.

Não existem procedimentos instalados para que a escola possa rever a sua parte e alterar seus procedimentos.

Carol: a escola está engessada?

Nigel Brooke: muito, muito. Vivemos numa cultura burocrática, e a maneira em que as escolas são organizadas nas esferas públicas só enfatizam isso. Só consolidam uma miséria, essa incapacidade de mexer.

Carol: então podemos afirmar que o problema é muito mais politico do que de diagnóstico?

Nigel Brooke: eu diria. É um modelo de escola pública. Quem contrata o professor, como ele é alocado para as escolas, qual sua função uma vez alocado em determinada escola… Tudo isso vem contribuir para esse engessamento.

Outro extremo completo é a escola ou sistema onde é o próprio diretor ou conselho diretor da escola que decide que tipo de professor eles precisame que sai ao Mercado para procurar e contratar essas pessoas com um orçamento que é próprio da escola e o diretor vai criando dentro da escola a sua equipe e a própria dinâmica que ele quer. Temos absolutamente opostos. Esse sistema que estou descrevendo talvez não exista em lugar nenhum, mas é um outro extremo.

Na medida em que você quer criar uma escola capaz de identificar seus problemas e alterar sua prática você tem que andar na direção daquele outro extremo, senão a mudança vai ser muito lenta.

Carol: Fale um pouco sobre o GERES (estudo longitudinal sobre qualidade e equidade no ensino fundamental brasileiro).

Nigel Brooke: são 6 universidades públicas colaborando, é preciso muita organizacão para fazer a coisa decolar. Nem o CNPQ consegue isso. Voluntariamente cada uma dessas instituições se juntou neste projeto comum. Há financiamento para essa pesquisa, mas o financiamento é para os custos reais, para os aplicadores, custos de campo. Para os pesquisadores não há nenhuma gratificação, nenhum ganho em termos financeiros,  só ganhos acadêmicos. Conseguimos manter coeso este grupo de 6 universidades durante já 5 anos , sem ninguém ganhar nada. Eu acho que para isso já merece um prêmio (risos), pois é um exemplo de como se mantém ativo o grupo de pesquisa em torno de um projeto, de um objetivo comum com sucesso. Tem dado certo, conseguimos levantas as últimas informações, agora é uma questão de processamento.  Que não é fácil, mas daqui a pouco nós estamos com os dados da pesquisa completos e aí começa a festa dos pesquisadores que é de fazer as análises. De fato extrair as informações que estão aí. Essa fase daqui pra frente é muito prazeirosa, extrair as lições que os dados nos trazem.

Entrevista Nigel Brooke - Parte III (final)

Carol: em qual outro projeto educacional o senhor está participando no momento?

Nigel Brooke: estou com dois projetos da Secretaria de Educação de Minas Gerais. Um é um projeto de pesquisa e o outro que é um projeto de certificação.

O de pesquisa é interessante, é um projeto para descrever o perfil dos professores estaduais dos anos iniciais de todo o estado de Minas Gerais. O interesse especial nesta pesquisa é que é um “repeteco” de uma pesquisa de mesmo tipo realizada 12 anos atrás. Então vamos poder ver não só quem são os professores, mas no que esses professores são diferentes daqueles de 10, 12 anos atrás. De certa forma estaremos estabelecendo já uma série histórica para ver como o magistério vem mudando ao longo do tempo.

O outro é para estabelecer um sistema de certificação de professores. Minas Gerais têm discutido muito essa questão ao longo dos últimos anos e agora estamos colocando em prática essa idéia de estipular claramente o que é que se quer de um professor. Quais são os conhecimentos e as habilidades que, neste caso o professor dos anos iniciais, precisa ter?

E depois criar os instrumentos para avaliar se o professor tem ou não tem o que é preciso. A certificação deste tipo tem duas vantagens. Primeiro sinaliza para todo mundo o que é que deveria fazer parte da formação desses professores. Qual deveria ser o currículo dos cursos de formação.

E por outro lado, ao atestar que determinados professores de fato detém esse conhecimento, esse domínio que a Secretaria exige, mostra para a sociedade que existem professores excelentes. Tem professores que de fato merecem alguma distinção e que o sistema está criando esses professores que estão acima da media, e que têm essas competências todas. É um passo positivo, inclusive para poder conceder uma gratificação para esses professores, o que eu acho justo.

O valor simbólico desta certificação também é muito importante para o sistema no conjunto por elevar  a auto estima. 

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Curta Criativo 2009


O Sistema FIRJAN está recebendo até dia 04 de junho inscrições para o concurso CURTA CRIATIVO, um incentivo à produção cinematográfica que vai revelar novos talentos fluminenses para o mercado audiovisual. O CURTA CRIATIVO premiará os vencedores de forma que eles possam continuar produzindo suas ideias e exibir suas criações para divulgar a força da criatividade do Rio de Janeiro.

Poderão se candidatar ao concurso:

  • os alunos regularmente matriculados em cursos livres e técnicos de cinema do Estado do Rio de Janeiro.
  • os alunos regularmente matriculados, em qualquer período, em instituições de ensino superior nos cursos de Cinema, Comunicação e Design  do Estado do Rio de Janeiro.
Saiba mais lendo o regulamento.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dedução X Descrição

O multiculturalismo defendido pela professora Ana Canen propõe um currículo composto de conteúdos básicos que possam servir de estímulo à atividades escolares para o desenvolvimento das habilidades e competências, para que tanto aluno quanto professor possam lidar com a diversidade cultural. 

“É preciso formarmos cidadãos com a capacidade de admitir que existem visões diferenciadas da vida e que temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos próprios valores”, afirmou a professora no post do dia 13 de abril.

Para ilustrar este tema, disponibilizo aqui cena do filme  alemão O Enigma de Kaspar Houser, de 1974 (Werner Herzog, "Jeder für sich und Gott gegen alle"), onde o professor rechaça a habilidade do aluno de chegar à mesma conclusão através de outro raciocínio.

Vale a pena conferir:



 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Teach for America

O Teach for America (TFA) é um programa americano que procura colocar alunos de universidades de elite para dar aulas nas escolas localizadas nos bairros com piores indicadores. Ligado à uma organização sem fins lucrativos de mesmo nome criada em 1989, tem como objetivo reduzir as desigualdades de acesso à educação de boa qualidade nos Estados Unidos.

O programa recruta e treina jovens talentosos, com alto potencial de liderança e capacidade de serem agentes de mudança para serem professores durante 2 anos em escolas públicas em regiões de baixa renda.

Desde 1990 mais de 17.000 pessoas fizeram parte do TFA, atingindo mais de 1.000 escolas e mais de 3 milhões de alunos. Ana Gabriela Pessoa, ex-aluna da Universidade de Harvard, forneceu mais informações sobre o programa.

Ana é bacharel em Política, Filosofia e Economia e mestre em Educação. Perguntada se existem pesquisas comparativas em relação ao fato de estes profissionais não terem formação pedagógica ela esclareceu que no caso do Teach for America a formação pedagógica não faz muita diferença.

“A teoria mostra que não faz diferença, pois eles recebem treinamento durante 5 semanas e depois têm treinamento em serviço ao longo do ano”, afirmou. “Em relação ao controle da sala de aula os professores reclamam do mesmo problema que os professores brasileiros, mas eles têm técnicas para gerenciar esta situação.”

Leia matéria da Veja sobre o programa.

Conheça o site oficial.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

AS DEZ MELHORES PRAIAS DO BRASIL

O JORNAL BRITÂNICO THE GUARDIAN LISTA AS DEZ MELHORES PRAIAS DO BRASIL!
         

1.Alter do Chão (Pará)

2.Sancho (Fernando de Noronha)

3.Toque (Alagoas)

4.Taipus de Fora, península de Marau (Bahia)

5.Caraiva (Bahia)

6.Arpoador (Rio de Janeiro)

7.Lopes Mendes, Ilha Grande (Rio de Janeiro)

8.Fazenda (São Paulo)

9.Bonete (São Paulo)

10.Lagoinha do Leste (Santa Catarina)


Veja as fotos...


Deu no ex-blog do Cesar Maia.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte I)

Entrevista com Ana Canen sobre proposta curricular para uma escola eficaz. Ana é PhD em Educação pela Universidade de Glasgow e mestre em Educação pela PUC-Rio.

Carol: Qual sua posição em relação às novas tecnologias? 

Ana: Como tudo na área da educação, podem ser usadas para efeitos positivos e para objetivos que não vão resultar em maior aprendizagem. A tecnologia no ensino se encaixa nesta perspectiva. Costumo dizer que trabalhar com a diversidade cultural dos nossos alunos, professores e escolas implica na sensibilidade real à esta diversidade. Isto é o que eu defendo no multiculturalismo, que é o conjunto de respostas à diversidade cultural. O que é a diversidade cultural? Diversidade étnica, racial, de classes sociais, de linguagem. Então se o professor, se o gestor educacional está atento à esta diversidade, se está sensibilizado para isso, pode usar qualquer recurso para ter resultados positivos, de valorizar essas culturas, de estabelecer um diálogo com essas culturas e promover efetivamente a aprendizagem.

No caso das tecnologias é a mesma coisa. O professor ou os alunos têm um computador, ou mesmo outras tecnologias como o vídeo, a televisão, são recursos que ajudam imensamente a área da educação. Nós somos muito privilegiados de termos esses recursos dentro da evolução da tecnologia. Mas isso não diminui o que eu tinha dito antes, é o professor que vai selecionar as mensagens que quer transmitir aos alunos, as atividades que quer comentar por intermédio das tecnologias, a forma como ele vai apresentar. Conjugar a tecnologia, que é um avanço extraordinário com a sensibilidade para um diálogo com as culturas, dosar as mensagens em linguagem compreensível, isso é um casamento perfeito.

Carol: O uso das tecnologias da informação e comunicação na educação está cada vez maior: a interação via rede, softwares de ensino, capacitação de professores para uso das novas tecnologias, experiências com e-mail, chat, portais, blogs etc. Tudo isso provoca o jovem de tal forma que sua atenção fica difusa?

Ana: Depende de como é tratado. Eu sempre defendo que você deve incentivar o aluno a ser um pesquisador. Ele não pode ser simplesmente uma pessoa que vai absorver passivamente os conhecimentos. Para ele ser um pesquisador, o professor primeiro tem que estar sensível à diversidade cultural. Quem são esses alunos com quem ele lida, de que comunidades são provenientes, quais são as culturas, quais são as linguagens, pra ele poder utilizar as ferramentas que vão ao encontro deste diálogo.

Em segundo lugar, ele tem que provocar de modo que esses alunos sejam pesquisadores. Como é que se faz uma pesquisa? Toda pesquisa surge de um problema. Se não há problema não tem o que pesquisar. Então quando a tecnologia é utilizada para que o aluno venha ser um pesquisador, para problematizar algum aspecto da realidade e pesquisar como resolver esse problema, ela não vai ocasionar a difusão. Existe a difusão se o professor não direcionar a pesquisa de forma correta. O tema não pode ser muito genérico, tem que dar um problema, ser mais específico, para o aluno não dispersar, porque o aluno não sabe o que é relevante e o que não é. Não sabe se um hiperlink é importante para o tema principal…

Sem direcionamento o aluno pega tudo o que vê pela frente como se fosse uma pesquisa, mas ele se perdeu, ficou confuso, se dispersou, como vc colocou muito bem. Mas se o professor dá um problema específico, faz perguntas exatas, a pesquisa virtual tem foco, parte de um problema, não é um tema amplo. Por mais que o aluno tenha várias informações naquela tecnologia, ele não vai se dispersar porque tem um fio condutor, tem  um problema a responder. A base tanto para a tecnologia quanto para qualquer outra área da educação é o professor que conjugue os benefícios da tecnologia com um bom preparo que ele tenha, uma boa formação seja inicial ou continuada que lhe permita fazer de seus alunos pesquisadores, problematizadores. Ele guia, dá o fio condutor para este aluno mergulhar nos recursos tecnológicos e promover as respostas, promover uma aprendizagem efetiva.

Carol: Quanto maiores as oportunidades, mais chances as crianças e os jovens têm de desenvolver suas potencialidades. A escola tradicional está engessada e seu trabalho defende “diferentes idéias para diferentes pessoas e instituições.”. A escola eficaz deve oferecer educação musical, artística, e/ou religiosa;  ensinar línguas e direitos humanos e/ou do consumidor?

Ana: O currículo é algo muito importante, central mesmo em uma escola. Uma escola eficaz, um sistema educacional eficaz se assenta num currículo eficaz. O que seria no meu entender um currículo eficaz? Seria tanto o da escola quanto o de formação dos professores. Não só de formação inicial, aquela que acontece nas universidades, como a formação em serviço, através das parcerias, que as secretarias de educação fazem com professores, com pesquisadores, com instituições de ensino superior para fornecer um currículo de formação de professores, neste caso em serviço continuado, que seja um currículo efetivo, que seja um currículo relevante. O currículo eficaz não precisa ser um somatório de conteúdos, porque senão acrescenta-se um monte de conteúdos e isso acaba que não tem fim.

O currículo é a alma da Educação. Tanto o das escolas como o de formação inicial e em serviço, dos professores. O que seria um currículo relevante? No caso da escol não adianta ficar acrescentando conteúdos. O currículo deve ser uma articulação muito bem feita entre conteúdos, competências e habilidades. Você não quer só uma criança que decore conteúdos de todas as áreas, você quer que ela seja estimulada a desenvolver competencias e habilidades. Por exemplo, você quer que ela desenvolva uma habilidade de respeito às diferenças se você está dentro de uma visão multicultural. Uma competência de lidar com essa diversidade, pois ela vai ser um profissional que no futuro vai ter que lidar com o mundo em transformação, com as tecnologias, vai ter que lidar com a diversidade das pessoas, tem que ter esta competência de aceitar as diferenças, de lidar com isso. 

Então o currículo eficaz não é só aquele que vai acrescentando conteúdos, é aquele que articula esses conteúdos à criação, ao desenvolvimento de habilidades, e para isso não precisa de uma quantidade enorme de conteúdos. Alguns conteúdos básicos que possam servir de estímulo à atividades como estudos de casos, laboratórios, simulações, dramatizações que vão estimular o desenvolvimento dessas competências, a competência de lidar com a diversidade cultural. A competência de admitir que existem visões diferenciadas da vida e que nós temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos próprios valores.

Existem visões diferenciadas da vida e nós temos que colocar um pouco entre parênteses os nossos valores.

Habilidade de estudo. Muitas pessoas as vezes têm na escola aqueles conteúdos todos, mas o currículo não está fornecendo oportunidades de desenvolver habilidades de estudo individual, de procurar informação na tecnologia, de problematizar um assunto. Direitos humanos, teatro, música, são partes importantes do currículo, mas tem que haver em primeiro lugar um diálogo, desses conteúdos com a diversidade das crianças, com as habilidades. Nem todos tem potencial para todas as coisas.Tem que tentar conhecer a diversidade cultural, étnica, de linguagem dos alunos e tentar dar à eles um pouco de poder para escolher caminhos nesse currículo de acordo com as suas habilidades e suas tendências é um dos caminhos bons. Em algum momento, se ele em conjugação com professores e gestores achar que a música é um caminho que tem a ver com suas potencialidades, tem que perseguir níveis mais aprofundados de música. Oferecer a oportunidade de um currículo variado no primeiro momento, mas tentar entender a diversidade cultural e ir aprimorando de acordo com as potencialidades, este é o primeiro aspecto.

O segundo aspecto é que todos esses conteúdos não sejam exaustivos, que sirvam não só para dar as informações necessárias como também para estimular competências e habilidades. Competência para lidar com o diferente,  a habilidade de lidar com a diversidade, habilidades éticas, comportamento ético. O currículo eficaz não é um somatório de conteúdos. São alguns conteúdos que estejam em diálogo com as potencialidades, com as singularidades das crianças, com as necessidades do momento atual e que forneçam elementos para se trabalhar com habilidades e competências e não só com conteúdos a serem detonados.

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte II)

Carol: Essa mudança parece ser mais fácil nas escolas particulares. Como ter um sistema educacional multicultural público, articulando igualdade e diferença, que ofereça de tudo um pouco para que não haja excluídos? Através de parcerias?

Ana: Tudo sempre é possível e mesmo nas escolas particulares isto não é tão tranquilo como às vezes pensamos. O vestibular, por exemplo. Mesmo as escolas particulares acabam sendo pressionadas pelos alunos e pela comunidade a oferecerem alguns conteúdos que vão se adicionando em função dos exames de ingresso nas universidades de prestígio. Mesmo essas escolas particulares nem sempre conseguem desenvolver currículos diferenciados, que valorizem a potencialidade dos alunos, que às vezes têm habilidade para música, ou teatro, mas como isso “não cai” no exame de ingresso nas universidades, acaba sendo deixado de lado.

A primeira parte foi mais para dismistificar o ensino particular, que embora tenha mais liberdade também existem esses cosntrangimentos. No caso do sistema público, como trabalhar respeitando essa diversidade de caminhos e ao mesmo tempo prestando atenção em conteúdos mais universais? Nós nunca conseguiremos e nem acho que é a intensão fazer um currículo totalmente diversificado e desligado dos conhecimentos que são valorizados pela sociedade. Dos conhecimentos numa era altamente tecnologizada como a nossa. Dos conhecimentos que hoje estão mundializados, as fronteiras foram praticamente quebradas através da internet, da TV a cabo. Temos o mundo muito mais interconectado e o currículo eficaz tem que preparar esses alunos para lidar com este mundo de hoje, um mundo globalizado, tecnologizado, diversificado.

Alguns conhecimentos têm que ser trabalhados independentemente das potencialidades dos alunos. São conhecimentos que a escola é chamada a desenvolver. Fazer currículos completamente diversificados e adaptados apenas às crianças das comunidades que procuram aquela escola não é o desejável. Ao mesmo tempo também desprezar as potencialidades dos alunos e as habilidades que devemos desenvolver apenas em função dos conhecimentos socialmente valorizados é cair no extremo oposto.

Eu recomendo um equilíbrio. O currículo eficaz deve equilibrar os conhecimentos, as habilidades e competências de um mundo globalizado, tecnologizado com aqueles conhecimentos mais humanistas que muitas vezes estão sendo esquecidos. Desenvolver habilidades para o aluno apreciar uma boa música, entender que  existem músicas de outras culturas, diferentes do ambiente cultural dele. Ampliar o repertório cultural das crianças. E valorizar a cultura que eles trazem. É difícil mas não é impossível, desde que nós não interpretemos isso como  um acúmulo de conteúdos a serem decorados. Trabalhar no equilíbrio entre conhecimentos socialmente valorizados, conhecimentos que ampliem o repertório cultural das crianças que chegam nessas escolas. Mas ao mesmo tempo tudo isso em diálogo com as culturas que eles trazem, sem menosprezar aquelas culturas, fazendo pontes e incentivando as suas habilidades é o currículo eficaz.

Como isso pode ser feito no sistema público? Temos que contemplar dentro do currículo da escola  momentos em que vamos trabalhar habilidades de estudo individual. Tem que ter algum tempo nessa escola, nesse currículo, em que ele vai aprender como fazer um dever de casa sozinho, como correr atrás de uma informação, como selecionar na internet as informações relevantes, são habilidades. Ele pode usar isso nos trabalhos de várias matérias. Em algum momento o foco não vai ser a matéria em si, mas a habilidade de correr atrás de uma informação relevante. Isso é uma habilidade necessária no mundo de hoje. Se cai no exame de entrada na universidade ou se não cai não importa, é uma habilidade que tem que fazer parte da vida dele.

Em outro momento se o aluno tem muito jeito para música, para  oralidade, mas não é muito bom na escrita, deve-se incentivar a oralidade, para ele se tornar um grande orador ou trabalhar com teatro, com alguma atividade que dependa da potencialidade dele. É o momento do currículo em que devemos valorizar a cultura dele. E trabalhar conteúdos matemáticos, por exemplo, sempre em diálogo com a cultura do aluno, pois se o professor falar muito difícil sem levar em conta o conhecimento prévio dele vai prejudicar seu aprendizado.

Proposta curricular para uma escola eficaz (parte III)

Carol: Qual a importância do currículo para a educação? Como ele deve ser formulado pelos gestores e trabalhado pelos professores? Como o currículo pode tornar as aulas mais atraentes e efetivamente contribuir para a formação das crianças e jovens?

Ana: O currículo eficaz faz a criança aprender, dialoga com a cultura dela mesmo que seja para ensinar outros conhecimentos, incentiva as potencialidades individuais desses alunos, tenta trazer não só conteúdos, mas competências e habilidades que são requisitadas nesse mundo globalizado. Para isso tem que ter planejamento, para ver como será a distribuição do tempo, pois o próprio currículo não pode ser organizado só em conteúdos. O mapa curricular tem que ter habilidades, competências e a avaliação tem que medir isso. Não adianta fazer um currículo muito interessante e eficaz se na hora de avaliar esquecer tudo e avaliar somente matemática, português, desprezando todo o trabalho.

Tem que ser uma formação de professores que trabalhem com parcerias, pesquisas na área e que também dialogue com os saberes dos professores, senão cai no mesmo erro. Se for dar um curso de formação de professores conteudista, sem dialogar com os saberes que eles desenvolveram acaba por não penetrar nas expectativas e na prática desse profissional. Ele acaba  fazendo tudo da mesma forma e a escola não muda.

Carol: Que projeto você está coordenando no momento?

Ana: No momento estou coordenando um projeto de multiculturalismo em educação. Justamente com foco na formação continuada de professores. Traçar estratégias em conjunto com os professores, em conjunto com as escolas, secretarias e fundações para repensar essa formação continuada desses professores levando em conta a cultura socialmente valorizada, o currículo que temos que ministrar para as escolas, mas ao mesmo tempo equilibrando isso com o respeito e a valorização à diversidade dos alunos.

Como fazer isso? Não há receitas prontas, o projeto está tentando ver experiências, o que já está sendo feito, e acima de tudo se baseia em encarar a escola como uma organização multicultural. Como espaço onde transitam professores diferenciados, alunos com backgrounds culturais dos mais diversificados. Escolas que são instituições ligadas às secretarias, que estão ligadas ao Ministério, que estão ligadas à sociedade. Portanto é uma organização multicultural porque tem que trabalhar com um currículo que leve em conta essa diversidade toda, mas que ao mesmo tempo tem que ter seus indicadores, tem que ser avaliada por aquilo que ela é chamada a realizar, que é ampliar o repertório cultural dos alunos, preparar para o mercado, e para isso tem que ter avaliações e indicadores de larga escala.

Como podemos trabalhar com a formação continuada de professores e de gestores numa perspectiva multicultural? Essa perspectiva não recaindo somente numa diversidade total, mas equilibrando momentos em que essa escola tem que levar em conta seu compromisso e tem que ser avaliada por esse compromisso de currículo e momentos em que as avaliações têm que levar em conta a diversidade mesmo, dos alunos e da escola. Por exemplo, uma escola que fica em determinada região e que é mais afetada pela violência. Como é que é essa cultura? Além dos instrumentos mais homogêneos como é que podemos avaliar levando em conta essa diversidade? Como é que preparamos os professores e gestores para sair da forma homogênea e equilibrar momentos mais homogêneos de avaliação com momentos mais heterogeneos de entender aquela escola. Essa é a linha do projeto. Entender a escola como organização multicultural e entender que estratégias e que currículos de formação de professores nós podemos desenvolver para prepará-los para esses desafios.

Carol: Nesse projeto o estudo do currículo é somente para a formação de professores ou também direcionado aos alunos?

Ana: Este projeto está mais direcionado para a formação de professores, mas indiretamente acabamos tocando no currículo das escolas, porque ao preparar professores temos que ver um pouco qual é o currículo que esses professores e gestores enfrentam no seu cotidiano. Entendendo currículo como seleção da cultura e conjunto de atividades desenvolvidas, Embora o foco seja a formação continuada de professores acabamos por também ver o tipo de currículo que esses professores estão lidando, como podem lidar melhor com ele e que perspectivas podemos apontar para esse currículo para também fazer um trabalho conjugado.

 Março/2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Coral Vivo perde patrocínio

O Projeto Coral Vivo perdeu o seu patrocínio principal, do Programa Petrobras Ambiental.

Inicialmente idealizado por pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ, nasceu em 1994 com o estudo  dos processos de estruturação, formação e renovação da comunidades coralíneas brasileiras e após alguns anos foram definidos os principais aspectos da reprodução de corais recifais, de seu recrutamento em áreas recifais “saudáveis”, de relações com variáveis ambientais abióticas, crescimento, distribuição no ambiente, etc.

Em 2003 o Projeto Coral Vivo foi criado, quando recebeu apoio financeiro do Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA. Em seu início, o Projeto visava realizar pesquisas voltadas para a recolonização de áreas degradadas, promovendo o ingresso de corais. O Projeto, então inserido na ONG Instituto Recifes Costeiros, de Pernambuco, atingiu todas as metas propostas e o convênio foi bem sucedido.

Devido ao reconhecimento do esforço despendido para executar este convênio, em 2006 o Arraial d’Ajuda Eco Parque, que cedia ao projeto espaço por comodato, passou a ser patrocinador do mesmo. Concomitantemente, foi elaborado projeto submetido ao Edital Petrobras Ambiental 2006 que, segundo integrantes, não pôde ser renovado em 2009 por questões burocráticas.

Os recifes estão órfãos.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Entrevista sobre a formação de professores

Entrevista com a Doutora em Educação (PUC-SP) Guiomar Namo de Mello, que atualmente é diretora da EBRAP, Escola Brasileira de Professores. Guiomar também possui Pós-Doutorado em Educação Comparada pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres, Inglaterra.

Carol:

Você está escrevendo o Plano de Educação do Estado de São Paulo em conjunto com o Professor Ruy Berger. Que eixos estão sendo priorizados?

Guiomar:

É claro que eu não estou fazendo isso sozinha, tem um grupo grande que está escrevendo. O que vai ser priorizado são as linhas da política educacional que a secretaria está adotando neste momento e que tem a ver de um lado com maior responsabilização, com toda a política do IDESP, pagamento de bonus etc. No eixo da qualidade um amplo movimento de reforma curricular, que a secretaria começou praticamente há um ano, um ano e meio, e que está sendo consolidado agora, e que mudou muito o tipo de educação em serviço dos professores, pois vamos fazer toda esta parte volta especificamente para a proposta curricular. Não será mais uma educação em serviço sem foco. O plano pretende também fortalecer todo o processo de municipalização, que continua correndo no estado de São Paulo. Esses são alguns dos eixos importantes das políticas atuais.

 

Carol:

Qual o tipo de responsablilização que ocorre no estado de São Paulo?

 

Guiomar:

O que a secretaria implementou e que já saiu no jornal por esses dias (24 de março de 2009) a partir da avaliação do SARESP, que é o sistema de avaliação do estado de São Paulo, calcular um indicador semelhante ao IDEB, mas eu não saberia dizer aqui os detalhes técnicos, e a partir deste indicador será possível avaliar o quanto que a escola progrediu e a partir do progresso de cada escola estabelecer um incentivo financeiro para os professores, para os diretores etc. Na linha da responsabilização eu acho que o carro chefe é este.

 

Carol:

Qual sua opinião sobre a progressão continuada?

Guiomar:

A progressão continuada já foi implantada em São Paulo há quase 10 anos. Ela gerou, por uma série de circunstâncias históricas - que em parte eu nem vivi, pois não estava no Brasil – uma resistência bastante grande da parte dos professores. Na verdade eu considero que não são resistências à questão técnica da progressão continuada, devem ter por trás delas outras questões que não se explicitam, se revelando em relação à progressão continuada, que maldosamente alguns professores chamam de promoção automática.

 

Carol:

Que não é a mesma coisa…

Guiomar:

Absolutamente. A Promoção Automática não é uma questão pedagógica, é uma questão de falta de ética profissional. Quem não ensina um aluno o ano inteiro e manda ele pra frente, não está cumprindo o seu dever. Agora se ele ensinou e se o aluno pode crescer neste ano o pouco ou o muito que o aluno cresceu tem que ser considerado ao final do ano. Você não pode fazer uma criança voltar eternamente atrás sem considerar o que ela cresceu durante um ano. Isso quer dizer progressão continuada, literalmente. Um progressso que se dá de maneira continua.

 

Carol:

Como isto é feito na escola pública? Como recuperação paralela?

Guiomar:

Como recuperação paralela. Como um processo de avaliação interna, que tenha muito a ver com a compatibilização da avaliação interna com a externa. Esta avaliação interna que a escola deveria fazer não olhando o espelho retrovisor, porque quando isso acontece você só vê o que aconteceu, e não o que falta para frente. A avaliação serve muito para dizer não só  o que você andou, mas o quanto falta pra você andar. Se você só olhar para trás, sempre vai querer voltar para o ponto de partida. Nós cometemos esses absurdos com as crianças. Ela reprovar em uma série em uma disciplina. 

No ano seguinte ela faz a série inteira novamente, incluindo as disciplinas em que foi aprovada, e quando chega no final do ano corremos o risco de ela reprovar não mais na disciplina que ela tinha reprovado no ano anterior, mas em outra, e isto põe em cheque a avaliação dos professores, a avaliação da escola. Como é que se faz com uma criança que foi reprovada em matemática e que tem que fazer português de novo, se o professor de português considerou que ela tinha aproveitamento suficiente? 

É uma questão muito delicada e que deveria ser posta para reflexão de todas as equipes escolares. Toda vez que fala-se nisso no exterior as pessoas acham que estamos enganados, que não deve ser assim. E é. Nós sabemos que é. Algumas escolas inovaram, criaram a dependência, principalmente no ensino médio, que eu saiba, mas isso não é uma prática constante nas nossas escolas.

 

Carol:

Vai ver isto  acontece porque a escola pública já sofre com a contratação de temporários, a falta de infra-estrutura… Como é que ela vai gerenciar um sistema de dependências, de recuperação paralela?

Guiomar:

Pois é. E no meio desta precariedade toda quem paga o pato é o aluno, a corrente arrebenta para o lado dele. No meio desta precariedade, com critérios que são muito discutíveis…

 

Carol:

Guiomar: Como você vê o problema da formação de Professores pelas Universidades Brasileiras. Como esse problema pode ser enfretado?

Guiomar:

Este é o objeto da minha palestra e é bem longo. Eu acredito que é o grande obstáculo construirmos uma educação de qualidade no Brasil. Enquanto a gente não mexer seriamente, profundamente, na própria estrutura da formação do professor, eu acho que não vamos conseguir sustentar um movimento de melhoria. Podemos até conseguir uma melhoria e aí entra uma nova leva de professores e temos que começar tudo novamente. 

O professor é aquele que vai sustentar isso por 25 anos pelo menos. Se você tiver um professor bem formado que seja devidamente apoiado ao longo e principalmente no início da carreira, ele terá condições de durante 25 anos dar sustentação à uma inovação para que ela crie raízes. E isto não vai acontecer com este tipo de professor que hoje estamos formando. Estamos formando professores que não tem nem mesmo a educação básica no ponto em que é preciso ter para poder entrar numa classe para dar aula na educação básica.


Carol:

Então o problema seria político, não?

Guiomar:

É um problema técnico porque existem divergências inclusive quanto às questões do currículo, enfim, questões pedagógicas, e é um problema político muito sério porque envolve uma instância da educação que é  o ensino superior sobre a qual aqueles que empregam os professores não têm poder de decisão. Teríamos que ter com o ensino superior um tipo de relacionamento aonde de fato as secretarias estaduais e municipais pudessem dizer o que é que falta nos professores que eles estão recebendo. 

E o que é que eles precisam realmente para que a universidade faça uma força para poder responder à esta demanda. Hoje em dia a universidade praticamente nem escuta o que dizem as pessoas que trabalham na educação básica. Temos um curso de educação, uma equipe preocupada, mas os professores vêm de todas as areas, da Física, da Química, da Matemática, da História, da Geografia, da Língua Portuguesa…. Cada um desses é um feudo dentro do ensino superior brasileiro. E nós não temos nenhuma instituição que articule isso debaixo de um projeto pedagógico comum. Então estamos muito mal servidos em matéria de formação de professores.

 

Carol:

O programa Teach for America[1] é um projeto que incentiva os melhores alunos de universidades como a Harvard a dar aulas por um período de 2 anos em escolas públicas americanas, com a promessa de serem melhor colocados no Mercado de trabalho após a experiência e já está sendo implantado em outros países. O que você acha deste projeto?

Guiomar:

É um projeto muito interessante, que tem tido sucesso nos Estados Unidos, mas ele não é uma resposta de massa. Não seria aqui e não é nos EUA, porque não se precisa de professor as centenas, precisa-se de professor aos milhares. Ou a centenas de milhares. No Brasil temos cerca de 2 milhões de professores exercendo efetivamente o magistério? Se tivermos um turn over de 5% disso, que não é muito, teremos 100 mil professores por ano para formar. As faculdades que têm muita vaga tem 3, 4 mil… E essas já são as grandes que oferecem ensino massificado totalmente sem qualidade. As universidades públicas que têm o ensino um pouco mais qualificado, são restritas no ponto de vista de vagas. 

Então temos um problema para o qual não adianta restringir só à universidade pública, temos que chamar a iniciativa privada. 90% dos professores do Brasil se formam e se preparam na iniciativa privada. Temos que contra com eles, não há como. Neste sentido é mais fácil até, porque a iniciativa privada é sensível ao Mercado, então se eu tenho um Mercado que exige uma coisa, ela vai atrás. Acontece que as próprias secretarias não sabem fazer a demanda do perfil profissional do professor. Além desse desencontro entre Educação Básica e Ensino Superior,esse lado de cá também não tem clareza do perfil de professor que precisa, o que cria uma situação de anomia total, que parece bem mas não está e quem paga o pato são os alunos.

 

Carol:

Que outro projeto você está envolvida no momento?

Guiomar:

Estou preparando um projeto para a FESP-RJ, de iniciação de novos professores, que em espanhol se chama INSERSIÓN, e talvez fosse um nome até melhor. Inserção do novo professor na carreira do magistério.

 

Carol:

Tem a ver com reciclagem?

Guiomar:

Não, tem a ver com o que acontece quando o professor termina seu curso de graduação e vai para o exercício. O que acontece quando o médico termina sua graduação e vai para o exercício? Ele vai para um hospital onde ficará trabalhando sob a supervisão de um médico experiente. Você pega um aluno recém formado em engenharia e não dá um projeto de grande envergadura para ele fazer os cálculos. Não se põe um piloto que saiu do treinamento para pilotar um boing sozinho. 

Mas nós pegamos um professor que saiu do banco da faculdade e jogamos ele dentro de uma sala de aula com 35 alunos, com enorme heterogeneidade. Alunos com universo de vocabulário, de cultura, totalmente díspares. E pedimos à ele para dar conta desses alunos. Estamos pedindo muito mais do que ele tem condição de dar. Agora agregue à isto que ele saiu de um curso de má qualidade e está pronto, é claro que a escola brasileira não dá certo. É admirável os casos em que ela dá, apesar de tudo. Esses casos temos que estudar com muito carinho, porque esses é que são anomalia num sistema como este.



[1] Será tema de outro post, na entrevista com Ana Gabriela Pessoa.